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Turquia reconhece possíveis erros nas punições após o golpe de Estado

Durante as duas últimas semanas, mais de 18.000 pessoas foram detidas. Entre elas, quase 10.000 estão em detenção preventiva

Agência France-Presse
postado em 01/08/2016 10:30
Istambul, Turquia - A Turquia admitiu pela primeira vez que podem ter acontecido "erros" no processo de punição em massa após o golpe de Estado frustrado e expressou descontentamento com a Alemanha, que vetou uma mensagem do presidente turco durante uma manifestação de simpatizantes no domingo, em Colonia.

Em uma notável mudança de tom por parte de Ancara, dois líderes políticos admitiram que as punições aplicadas após a tentativa de golpe de 15 de julho, muito criticadas no exterior, podem ter provocado "erros".

[SAIBAMAIS]"Se aconteceram erros, corrigiremos", disse o vice-primeiro-ministro, Numan Kurtulmus, enquanto a "grande limpeza" de simpatizantes do pregador exilado nos Estados Unidos, Fethullah Gülen, a quem Ancara acusa de ter organizado o golpe, afeta principalmente o exército, a justiça, o sistema educacional e a imprensa.

"Os cidadãos que não têm ligação com eles (os simpatizantes do pregador Fethullah Gülen, a quem Ancara acusa de instigar a revolta) devem ficar tranquilos porque nenhum mal será feito a eles", completou Kurtulmus em uma entrevista coletiva.

Mas os que estão vinculados ao imã, exilado nos Estados Unidos, "têm que ter medo. Pagarão o preço", reiterou o vice-primeiro-ministro ao falar sobre os simpatizantes de Gülen, que teve a extradição solicitada por Ancara a Washington.

Quase 10.000 pessoas estão sendo investigadas ou estão em prisão preventiva, incluindo jornalistas. Mais de 50.000 turcos foram demitidos de seus postos de trabalho. O primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, também afirmou que existia a possibilidade de que na caça às bruxas tenham sido cometidos abusos contra algumas pessoas.

"Estamos aplicando um trabalho rigoroso sobre os que foram destituídos", disse o chefe de Governo. "Alguns deles foram vítimas de processos injustos", admitiu, também adotando um tom mais conciliador, pouco habitual desde que o golpe frustrado que abalou o poder do presidente Recep Tayyip Erdogan.

;Nada excepcional;
A punição provocou críticas de Washington, capitais europeias, de várias organizações de defesa dos direitos humanos e da imprensa. O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, denunciou que as punições eram "desmedidas" e que não poderia permanecer calado.

O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, declarou que "um país que prende seus próprios professores e seus próprios jornalistas, encarcera (seu) futuro". Em resposta, Erdogan aconselhou os dirigentes ocidentais a "se meterem em seus assuntos".

Em outra tentativa de demonstrar força, a Turquia convocou o encarregado de negócios da embaixada alemã em Ancara depois da proibição, no domingo, da exibição de um discurso de Erdogan por videoconferência durante uma manifestação em Colonia (norte da Alemanha), na qual milhares de pessoas demonstraram rejeição ao golpe de Estado frustrado.

A Corte Constitucional alemã vetou Erdogan por temer que a mensagem aumentasse ainda mais a tensão dentro da diáspora turca na Alemanha, a mais importante no mundo. "Nas relações entre Estados é algo cotidiano, é normal que o representante de um Estado seja convocado pelo ministério das Relações Exteriores do país anfitrião", afirmou o porta-voz do ministério alemão das Relações Exteriores, Martin Sch;fer. "Por isto não há nada excepcional", reiterou.



Mas o episódio de Colonia é mais um na lista de divergências nas relações germânico-turcas. Além disso, o general americano Joseph Dunford, comandante do Estado-Maior dos Estados Unidos, que está em Ancara, deve ser reunir com o comandante do Estado-Maior turco, o general Hulusi Akar, e com Binali Yildirim.

As relações entre os dois países, chaves na estrutura militar da Otan, passam por um momento ruim desde que Ancara soliticou a extradição de Gülen, exilado na Pensilvânia. Depois das reuniões em Ancara, o general Dunford deve viajar até a base de Incirlik (sul da Turquia), a partir da qual decolam os aviões americanos que bombardeiam as posições do grupo extremista Estado Islâmico (EI) na Síria e Iraque.

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