Rodrigo Craveiro
postado em 15/08/2016 09:19
Na época das Cruzadas, muitos dos combatentes eram analfabetos e estavam devotados no que chamavam de ;liberação da Terra Santa;. ;Eles se mostravam sinceramente prontos para morrer, mas não tinham a capacidade de verbalizar as metas de sua luta;, lembra Yves Trotignon, ex-agente do serviço secreto francês DSGE e consultor em antiterrorismo. Seis séculos se passaram e um fenômeno de proporções similares ameaça a Europa. Milhares de jovens europeus abandonam o Velho Mundo para se alistar às fileiras do Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria. Eles retornam aos seus países de origem seduzidos pela jihad (guerra santa) e dispostos a matar e morrer por uma causa que nem mesmo eles acreditam de modo fervoroso. Apesar de individual e de não obedecer a parâmetros específicos, o processo de radicalização transforma mentes e corações, esculpindo assassinos brutais.
Pelo menos 1,8 mil dos 5 mil jihadistas europeus que combatiam no Oriente Médio fizeram o caminho de volta e estão prontos a atacar, de acordo com relatório do Serviço Europeu de Polícia (Europeu). ;São jovens seduzidos por uma mistura de crenças religiosas, motivações políticas e buscas pessoais. Assim como nas Cruzadas, estão prontos para se converter ao islã e morrer, ainda que sejam incapazes de verbalizar as metas de sua luta;, comenta Trotignon.
Após ser golpeada por extremistas islâmicos em Paris, em Bruxelas, em Nice e no interior da Alemanha, a Europa se engajou em debates calorosos sobre o tema. Segundo o ex-agente francês, as discussões são inúteis. ;É tarde demais para evitar as conversões à jihad. Duas décadas atrás, algumas pessoas acreditavam que os jihadistas eram jovens desempregados e que suas motivações eram puramente sociais e econômicas. Elas pareciam erradas, o que vemos agora é um fenômeno intrigante, que envolve desde desempregados até trabalhadores e burgueses;, afirma Trotignon. Estudiosos apontam que a interpretação draconiana e agressiva do islã ajudou os extremistas a estruturarem sua revolta contra a sociedade ocidental, um fenômeno chamado na França de ;islamização do radicalismo;.
Uma segunda teoria, de acordo com Trotignon, sustenta que dentro do sunismo ; um dos ramos da religião muçulmana ; existe um confronto entre a modernidade e o desejo de restauração da ;Era de Ouro do Islã;. ;Alguns dos jihadistas procedentes de países ocidentais usam a jihad para verbalizar o seu apetite por algum tipo de revolta; outros são verdadeiros crentes combatendo na Síria para criar um califado islâmico;, diz. Eles consideram o Ocidente inimigo por motivos históricos e por decisões diplomáticas. Segundo Trotignon, muitos desses jihadistas querem levar às ruas da Europa uma guerra semelhante à que ocorre na Síria. Para atingir esse objetivo, receberam treinamento terrorista. Nos últimos dois anos, se engajaram em complôs ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico.
Magnus Ranstorp, diretor de Pesquisa do Centro para Estudos de Ameaças Assimétricas da Universidade de Defesa Sueca, compara a devoção pela jihad a um caleidoscópio, onde existem infinitas combinações de cores primárias (os principais fatores). ;Os principais são: componentes sociopsicológicos individuais (sua personalidade e o que influencia você); sociais (falta de perspectiva e criminalidade); políticos (queixas e conflitos ao redor do mundo); religiosos e ideológicos (o jihadismo-salafismo, vertente mais conservadora e radical do islã); e temas de identidade;, enumera.
Segundo ele, os motores por trás do extremismo estão nas dinâmicas de grupos pequenos; nos radicalizadores, que doutrinam os futuros jihadistas; e no poder das mídias sociais. Trotignon lembra que, em janeiro passado, a Europol alertou para o fato de o EI ter enviado à Europa equipes que receberam treinamento de comando. ;A ameaça é muito real e séria. O espectro inteiro inclui desde ataques complexos, como em Paris, a atentados mais inspirados, como em Nice e na Alemanha.;
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