Phelan, Estados Unidos - Bombeiros exaustos continuavam nesta quinta-feira (18/8) combatendo o abrasador incêndio no leste de Los Angeles, que produzia tornados de fogo e que levou à declaração do estado de emergência e à retirada de mais de 82 mil pessoas de suas casas. Quase 1.600 bombeiros enfrentavam as chamas, tendo contido apenas 4% do gigantesco incêndio, segundo um porta-voz do serviço.
Imagens dramáticas de redes de televisão locais feitas diante do incêndio, perto da localidade de Phelan, mostravam chamas em forma de tornado, conhecidas como "firenadoes", subindo no ar e devorando tudo o que encontravam em seu caminho. As condições climáticas não ajudam: as autoridades preveem para as próximas horas que as altas temperaturas prossigam, os terrenos continuem áridos e sopre uma brisa quente. "Há um mato muito, muito seco, que é muito combustível", disse à AFP a porta-voz do corpo de bombeiros da Califórnia (Cal Fire), Lynne Tolmachoff.
"É muito perigoso para as pessoas e também para os bombeiros", advertiu. O Serviço Florestal americano (USFS, em inglês) afirmou, por sua vez, que "o incêndio segue se estendendo e o vento está se tornando forte". Dois bombeiros ficaram feridos enquanto atuavam nos trabalhos de extinção, mas puderam voltar à linha de frente depois de terem sido atendidos em um hospital local.
O governador da Califórnia, Jerry Brown, declarou o estado de emergência no condado de San Bernardino, situado 100 quilômetros a leste de Los Angeles, onde o incêndio batizado de BlueCut ganhava terreno rapidamente. Esta medida permite mobilizar todas as agências governamentais californianas para lutar contra os incêndios. O fogo começou por volta das 10h30 locais de terça-feira (14h30 de Brasília) e na quarta-feira havia consumido mais de 12.000 hectares, segundo o site oficial Inciweb, que indicou que 34.500 casas estavam ameaçadas, o que levou à retirada de 82.640 pessoas.
"Move-se muito depressa"
"Retiramos toda a comunidade", disse à AFP Mike Anderson, um bombeiro procedente de Redding, uma das tantas populações próximas que enviaram efetivos para apoiar os trabalhos de extinção. "Move-se muito depressa ao longo da estrada 138", acrescentou. As autoridades lamentam, no entanto, que muitos moradores tenham se negado a deixar suas casas (na Califórnia não se pode forçar uma pessoa a deixar sua residência).
"Tentamos dizer às pessoas que não há nada que tenha tanto valor em suas casas quanto suas vidas", insiste a porta-voz da USFS, Chon Bribiescas. Em um posto de gasolina situado em Pinon Hills, 15 km a noroeste do incêndio, Jeannine Yglesia compra um sorvete acompanhada do filho. "Acolhi 17 ou 18 pessoas na minha casa, são amigos e suas famílias que precisaram deixar suas casas", explica à AFP. "Não podem voltar e não sabem nada sobre sua casa", conta, antes de atender ao telefone. "Tenho que ir! Minha filha acaba de dizer que também estão nos evacuando", afirma com pressa.
Gail Nieto já sabe o que é deixar seu lar. Precisou sair de casa na noite anterior e está abrigado na residência de conhecidos. É a quarta vez em 30 anos que passa por esta situação, "mas nunca havia visto um incêndio que se propagasse tão rápido", afirma enquanto compra comida. A cafeteria Summit Inn, um lugar lendário na famosa Rota 66, por onde pararam celebridades como Elvis Preasley e Clint Eastwood, foi consumida pelas chamas, de acordo com o jornal Los Angeles Times.
O fogo representa "uma ameaça imediata para o grande público, o tráfego ferroviário e as casas (...) dos arredores", disse Inciweb. As autoridades colocaram em funcionamento dois centros de acolhida e quatro refúgios para animais. Várias estradas e ruas da zona estavam fechadas, assim como o centro de esqui de alta montanha em Wrightwood, que na temporada de verão recebe turistas que praticam caminhadas e outras atividades ao ar livre. No entanto, "algumas pessoas decidem não sair", disse Tolmachoff. "Causam problemas".
Temporada de incêndios
Em plena temporada de incêndios, a Califórnia também está lutando para apagar outros focos, como o desencadeado no sábado 170 km ao norte de São Francisco e já queimou mais de 1.600 hectares. O chamado incêndio Clayton destruiu mais de 175 construções, e apesar de os 1.700 efetivos conseguirem controlá-lo em 35%, suas chamas avançam agressivas para o norte, disse Cal Fire. Na zona vitivinícola do centro da Califórnia, o incêndio Chimney, que foi controlado em 20%, já queimou 2.700 hectares perto da cidade de San Luis Obispo e destruiu 40 edificações desde que começou, no sábado.
Na pitoresca zona costeira de Big Sur, o incêndio Soberanes, que queimou mais de 30.000 hectares, estava 60% controlado. Vinte e dois incêndios de envergadura estão atualmente ativos no oeste dos Estados Unidos. Entre eles, há seis na Califórnia, quatro em Wyoming, três no Colorado e três em Montana, segundo o Centro Nacional de Interagências de Incêndios.