Rodrigo Craveiro
postado em 23/08/2016 08:00
Gaziantep, sudeste da Turquia, cidade situada a 40km da fronteira com a Síria. As autoridades buscam determinar se o terrorista que se explodiu durante uma festa de casamento, no último sábado, era menor de idade. O atentado, com as marcas do Estado Islâmico (EI), deixou pelo menos 54 mortos, inclusive 22 crianças com menos de 14 anos, e 13 mulheres. Os noivos estão hospitalizados, mas se encontram fora de perigo. ;Nós ignoramos completamente quem são os autores deste atentado. As informações a respeito dos autores, do nome da organização, são inexatas;, afirmou o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, horas depois de o próprio presidente, Recep Tayyip Erdogan, ter dito que o suicida tinha entre 12 e 14 anos.
Kirkuk, nordeste do Iraque, a 810km de Gaziantep. Na noite de domingo, uma hora após uma explosão frustrada em uma mesquita, a polícia apreendeu um menino de 11 anos com dois quilos de trinitroglicerina escondidos sob a roupa. O garoto contou ter sido sequestrado por mascarados, que colocaram a bomba em seu corpo.
[SAIBAMAIS]Porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Oriente Médio e no norte da África , Farah Dakhlallah admitiu ao Correio o aumento nos casos de recrutamento de crianças, além de uma mudança no propósito do aliciamento. ;As crianças costumavam desempenhar funções de apoio aos grupos terroristas, como na condição de porteiros, cozinheiros, guardas e auxiliares de paramédicos. Nos últimos dois anos, no entanto, elas ganharam um papel mais proativo. Passaram a carregam armas, a receber treinamentos com armamentos pesados, a equipar postos de controle nas linhas de frente das batalhas e a exercerem o papel de franco-atiradores. Em casos extremos, têm sido utilizadas em missões suicidas;, explicou, por e-mail.
Em nota, o Unicef considerou que o uso de crianças como atacantes suicidas é ;ultrajante;. ;Encorajar crianças a realizarem atos de terror é um ;abuso infantil inadulterado;. Toda criança deveria ser protegida de todas as formas de violência;, comentou a organização. Segundo o jornal local Hurriyet Daily News, a bomba que explodiu em Gaziantep estava recheada de bolas de gude, para potencializar os efeitos destrutivos ; mecanismo idêntico aos dos artefatos utilizados para matar 103 pessoas na estação ferroviária central de Ancara, em 10 de outubro de 2015; e na cidade de Suruç, em 20 de julho do ano passado, quando 33 morreram.
A advogada de direitos humanos Brooke Goldstein, fundadora e diretora do The Children;s Rights Institute (em Nova York), alerta que a utilização de menores em ações de martírio é um fenômeno crescente. ;Nós temos visto o uso de crianças em conflitos armados desde a década de 1980, na Guerra Irã-Iraque. O Irã enviou crianças para que caminhassem diante dos tanques, em campos minados. Grupos terroristas dão às crianças mochilas recheadas de explosivos, sem que elas saibam, para detoná-las remotamente. No Iraque, temos presenciado casos de menores com deficiência física ou mental se explodindo. Em alguns casos, os extremistas dopam os meninos e meninas para que se imolem;, declarou à reportagem.
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