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Trégua da 'última oportunidade' para fim de guerra, é respeitada na Síria

A brutalidade da última batalha em Aleppo, a segunda cidade do país, que deixou centenas de mortos, incitou russos e americanos a buscar um acordo

Agência France-Presse
postado em 13/09/2016 10:45

Alepo, Síria - A trégua na Síria, considerada como a da "última oportunidade" para colocar fim a uma guerra que já deixou mais de 300 mil mortos, era respeitada nesta terça-feira (13/9), oferecendo aos habitantes de várias cidades sua primeira noite de tranquilidade em meses. As armas deixaram de ser ouvidas depois que a trégua entrou em vigor na segunda-feira às 19h00 locais (13h00 de Brasília), após um acordo entre Rússia e Estados Unidos, que apoiam, respectivamente, o regime e os rebeldes, em uma nova tentativa de colocar fim a mais de cinco anos de uma guerra devastadora.

A televisão oficial síria informou sobre pequenas violações causadas por disparos de foguetes por rebeldes nos arredores da cidade de Aleppo e na província central de Aleppo, sem deixar vítimas. A brutalidade da última batalha em Aleppo, a segunda cidade do país, que deixou centenas de mortos, incitou russos e americanos a buscar um acordo. O fim dos combates permitirá o envio de ajuda humanitária urgente a centenas de milhares de pessoas que vivem nas zonas sitiadas, em especial em Aleppo.

A ONU informou, no entanto, que esperava garantias de segurança para seus comboios antes de lançar operações humanitárias. Para poder enviar ajuda aos bairros rebeldes sitiados de Aleppo, militares russos instalaram um ponto de observação móvel na rota do Castello, um eixo de acesso vital ao norte da segunda cidade síria, que une a região com a fronteira turca, de onde esta ajuda é proveniente, segundo as agências de notícias russas.

Mas Damasco anunciou que negará a entrada de ajuda da Turquia aos bairros rebeldes de Aleppo se não for coordenada com o governo de Bashar al-Assad e com a ONU, indicou o ministério das Relações Exteriores sírio.

- "Conseguimos dormir" -
A guerra civil no país, que já dura mais de cinco anos, deixou, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) mais de 300 mil mortos, 87 mil dos quais eram civis, assim como milhões de deslocados. Em diversas localidades e cidades, em particular as controladas pelos rebeldes, na mira dos incessantes bombardeios da aviação do regime, a população demonstrou alívio.

Tanto no leste quanto no oeste da cidade, os habitantes permaneceram nas ruas na segunda-feira até a meia-noite, aproveitando o cessar-fogo para celebrar o Eid al-Adha, a festa muçulmana do sacrifício. "Geralmente não fechamos os olhos durante a noite pelo som dos aviões", disse Hassan Abu Nuh, um militante de Talbise, um reduto rebelde na província de Homs (centro). "Mas graças a Deus na última noite pudemos dormir".

Na província de Idleb, onde 13 civis morreram na segunda-feira antes da entrada em vigor da trégua, um militante também disse que a noite foi tranquila. O regime congelou suas operações militares "no [SAIBAMAIS]território" até 18 de setembro às 21h00 GMT (18h00 de Brasília) depois de dar seu aval ao acordo concluído na sexta-feira por Washington e Moscou. Ainda que a oposição e os rebeldes, debilitados, não tenham dado seu acordo formal à trégua e tenham pedido "garantias" do aliado americano, parecem respeitar em terra o cessar-fogo.

Isso não impede que o ceticismo prevaleça sobre o êxito desta nova trégua. Assim como na trégua anterior, no fim de fevereiro, que durou duas semanas, os grupos extremistas Estado Islâmico e Frente Fateh al-Sham (ex-Frente al-Nosra, braço sírio da Al-Qaeda), que controlam amplos setores do país, estão excluídos.

- Cooperação inédita -
O secretário de Estado americano, John Kerry, que negociou o acordo com seu colega russo, Serguei Lavrov, ressaltou que a trégua supõe que o regime se abstenha de realizar operações "em toda a região onde a oposição se encontra". Mas em várias áreas os rebeldes se aliaram à Frente Fateh al-Sham, considerada terrorista por Washington e Moscou. Se for respeitada durante uma semana, esta suspensão das hostilidades pode levar a uma inédita colaboração entre Moscou e Washington contra os dois grupos extremistas.


No entanto, um funcionário do Pentágono ressaltou que isso não implicaria automaticamente o princípio da cooperação, ao término deste prazo. "Os prazos são curtos e a desconfiança é grande", afirmou. Moscou e Washington buscam através do acordo favorecer a retomada das negociações entre o regime e os rebeldes para colocar fim a ao conflito que criou uma crise humanitária que atingiu a Europa e permitiu que o grupo Estado Islâmico se reforce em meio ao caos. O vice-ministro das Relações Exteriores russo, Mikhail Bogdanov, afirmou na segunda-feira que "o emissário da ONU Staffan de Mistura deve convidar todas as partes (às negociações) provavelmente no início de outubro".

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