Agência France-Presse
postado em 14/09/2016 16:01
Alepo, Síria - As regiões sitiadas na Síria esperavam nesta quarta-feira com impaciência os prometidos comboios de ajuda humanitária, que seguem bloqueados, apesar de uma significativa redução da violência após a trégua de 48 horas negociada pelas grandes potências.[SAIBAMAIS]A Rússia anunciou nesta quarta que é favorável a uma prorrogação por 48 horas do cessar-fogo em todo o território sírio, declarou em um encontro com a imprensa o general Viktor Poznijir, integrante do Estado-Maior russo.
O militar declarou que a Rússia "é favorável a uma nova prorrogação de 48 horas do regime de cessar-fogo em todo o território sírio", segundo as agências de notícias russas, acrescentando que os rebeldes sírios violaram a trégua em 60 ocasiões até a manhã desta quarta-feira.
Poznijir acrescentou que a aviação russa bombardeou na terça-feira à noite combatentes extremistas da organização Estado Islâmico (EI) no norte de Palmira, nos primeiros ataques reivindicados pela Rússia desde o início desta trégua, da qual estão excluídos o EI e a frente Fateh al-Sham (ex-Frente al-Nosra, braço sírio da Al-Qaeda).
Disparos esporádicos
Desde a entrada em vigor da suspensão das hostilidades, na noite de segunda-feira, os combates praticamente cessaram entre o regime e os rebeldes em todos os fronts de batalha, com exceção de tiros esporádicos, segundo ativistas, o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) e a ONU.
A trégua foi alcançada após semanas de discussões entre Washington e Moscou, que apoiam respectivamente a rebelião e o regime. O objetivo é favorecer a retomada das negociações entre o regime e os rebeldes para colocar fim ao conflito que desde março de 2011 deixou mais de 300.000 mortos, entre eles mais de 87.000 civis, além de milhões de deslocados, segundo um novo balanço do OSDH.
Por enquanto, a trégua deve permitir que a ajuda humanitária chegue a centenas de milhares de civis cercados em vinte cidades e localidades, a grande maioria pelas forças de segurança.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que está conversando com os Estados Unidos e a Rússia para que pressionem todas as partes na Síria para garantir a segurança dos comboiso de ajuda humanitária.
Ele disse que 20 caminhões carregados com alimentos e remédios ainda estão bloqueados na fronteira entre a Turquia e a Síria, aguardando ir para Aleppo.
Um responsável do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), no entanto, descartou a possibilidade de que a ajuda pudesse ser distribuída ainda nesta quarta-feira.
"Com base no que ouvimos em terra, é muito pouco provável que ocorra hoje", disse à AFP David Swanson, porta-voz da OCHA em Gaziantep, Turquia.
Caminhões à espera
"O desafio para nós é garantir que todas as partes mantenham a mesma posição", disse, pedindo maior segurança.
Swanson confirmou que 20 caminhões com rações de alimentos para 40.000 pessoas aguardavam na fronteira turca. "Quando nos derem autorização, poderemos nos movimentar".
"A ajuda não será entregue apenas em Aleppo (onde mais de 250.000 pessoas não recebem ajuda das Nações Unidas desde julho). A ONU na Síria quer levar ajuda a outras zonas cercadas ou de difícil acesso", afirmou.
Na véspera, o emissário da ONU, Staffan de Mistura, pediu garantias para os motoristas dos caminhões.
Para poder enviar ajuda a Aleppo, militares russos instalaram um ponto de observação móvel na rota do Castello, um eixo de acesso vital ao norte da segunda cidade síria que une a região com a fronteira turca, de onde esta ajuda é proveniente, segundo as agências de notícias russas.
Na falta de ajuda, a cidade ao menos viveu sua segunda noite de calma consecutiva.
;Nenhum civil morto;
O OSDH disse que, apesar de algum disparo esporádico, nenhum civil morreu na província de Aleppo desde o início da trégua.
A suspensão das hostilidades é aplicada de forma efetiva. "Se continuar assim, será um desenvolvimento muito positivo que economizaria mortes, violência e êxodo", declarou Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório.
A trégua foi apresentada como a da "última oportunidade" pelo secretário de Estado americano, John Kerry, que negociou o acordo com seu colega russo, Serguei Lavrov.