Agência France-Presse
postado em 16/09/2016 14:56
Washington, Estados Unidos - O candidato republicano Donald Trump deu, nesta sexta-feira, um passo para se separar da interminável polêmica sobre a nacionalidade do presidente Barack Obama, uma controvérsia que manteve viva anos e que lhe valeu acusações de racismo.[SAIBAMAIS]"O presidente Obama nasceu nos Estados Unidos. Ponto final", declarou Trump em um breve discurso em Nova York, no qual, contudo, acusou sua adversária na corrida presidencial, Hillary Clinton, de ser a origem desta polêmica.
De acordo com Trump, Hillary iniciou a controvérsia em 2008, quando ela tentava ser a candidata presidencial do Partido Democrata, apesar de ter perdido a disputa interna diante de Obama.
Hillary "começou a controvérsia. Eu acabei com ela, se entendem o que quero dizer", declarou.
De qualquer forma, Trump foi durante pelo menos cinco anos uma das mais raivosas vozes da interminável polêmica segundo a qual Obama não nasceu nos Estados Unidos, portanto não poderia ter sido eleito presidente.
Polêmica interminável e estéril
Obama nasceu em 4 de agosto de 1962 em Honolulu, Havaí, embora tenha começado sua carreira no estado de Illinois. A divulgação de seu certificado de nascimento, em 2011, não conseguiu pôr um ponto final na polêmica.
Nesta oportunidade, Trump chegou a se vangloriar por ter "forçado" Obama a apresentar o documento, mas em janeiro passado ainda não mostrava estar seguro de sua autenticidade.
O movimento "Birther" esteve desde o início estreitamente ligado aos setores mais conservadores do eleitorado, que desde o final do ano passado encontraram em Trump uma expressão política.
Desde então, tanto Trump como os seguidores do movimento "Birther" ficaram expostos a acusações de estarem motivados por racismo.
Em seu discurso desta sexta-feira, Trump claramente marcou distância desta corrente de opinião, embora de imediato não fique claro o efeito que o passo terá nas pesquisas de intenção de voto.
Trump já se encontrava sob forte pressão há várias semanas para que deixe clara sua posição em relação a esta controvérsia, embora até esta sexta-feira tenha evitado constantemente fazer referência ao assunto.
As pressões se multiplicaram depois que seu companheiro de chapa presidencial, Mike Pence, usou uma notável ginástica oratória durante uma entrevista para evitar condenar o apoio à candidatura de Trump por parte de um líder do grupo racista Ku Klux Klan (KKK).
As pressões sobre Trump por esta questão e a expectativa com o discurso fizeram com que as grandes redes americanas de televisão transmitissem ao vivo nesta sexta-feira o pronunciamento do candidato.
"Uma nova mentira"
Pouco antes do discurso, o próprio Obama havia formulado comentários nesta sexta-feira sobre a questão no Salão Oval, sem esconder a ironia.
"Eu sempre estive muito seguro a respeito do lugar onde nasci. E penso que a maioria dos americanos também", disse Obama, que declarou se sentir surpreso "que um assunto deste tipo apareça quando temos tanto o que fazer".
Durante uma reunião com mulheres negras em Washington, Hillary disse na manhã desta sexta-feira que "o presidente Obama nasceu nos Estados Unidos, é tão simples como isto. Creio que o senhor Trump lhe deve um pedido de desculpas".
Em nota, o comitê de campanha de Hillary considerou que as declarações de Trump nesta sexta-feira foram "uma vergonha".
"Depois de cinco anos apoiando uma teoria conspiratória racista na discussão política, foi terrível ver Trump apresentar-se como o juiz sobre se o presidente dos Estados Unidos é ou não é americano", declarou o comitê.
Por sua vez, o Comitê Nacional do Partido Democrata afirmou em nota que Trump "teve a audácia de lançar uma nova mentira sobre a origem do movimento", ao atribuir sua origem a Hillary.
Trump "não pode se separar desta mentira racista apenas com um gesto dos ombros", declarou a direção partidária.