Agência France-Presse
postado em 16/09/2016 19:33
Bratislava, Eslováquia - Os dirigentes europeus iniciaram nesta sexta-feira (16/9), em Bratislava, suas ações para recuperar a confiança em um bloco enfraquecido por uma série de crises, durante uma cúpula com 27 países destinada a impulsionar um projeto europeu sem o Reino Unido.[SAIBAMAIS]"Nós nos comprometemos em Bratislava a oferecer aos nossos cidadãos, nos próximos meses, uma visão de uma UE atraente, para que possam confiar e apoiar", destaca a chamada Declaração de Bratislava assinada pelos 27 dirigentes, reunidos sem a premiê britânica, Theresa May.
A vontade dos britânicos de abandonar o bloco, expressada no referendo em 23 de junho, impõe um novo desafio à UE, que ainda sofre os efeitos da crise financeira de 2008, além da atual questão migratória, passando pelos atentados extremistas no coração da Europa.
Para responder à preocupação de 500 milhões de cidadãos e dar um novo impulso, os líderes chegaram a um acordo sobre medidas econômicas, de segurança e de defesa. Essas medidas devem ser aprovadas em março, em uma cúpula em Roma, por ocasião do 60; aniversário do tratado fundador do projeto europeu.
Os pontos acordados na capital eslovaca preveem ações para proteger as fronteiras externas do bloco, lutar contra o terrorismo e estimular o crescimento econômico e do emprego, especialmente entre os jovens.
Os dirigentes da França, segunda potência militar do bloco atrás do Reino Unido, e a Alemanha, principal economia da zona do euro, comprometeram-se a trabalhar juntos "intensamente" nos próximos meses para alcançar o "sucesso" da Europa.
"Situação crítica"
A tarefa é árdua, já que, como assinalou a chanceler alemã, Angela Merkel, em sua chegada a Bratislava, a UE se encontra em uma "situação crítica".
Deve-se "corrigir erros passados e avançar para novas soluções", pediu o presidente do Conselho Europeu, o polonês Donald Tusk, para quem a prioridade passa pelo controle "total" das fronteiras da UE.
"A defesa europeia é o desafio para a Europa", assinalou o presidente francês, François Hollande.
Junto com Merkel, Hollande defendeu uma iniciativa para lançar mais facilmente operações da UE e obter um maior financiamento europeu em matéria de defesa.
Essas medidas vão ao encontro das propostas da Comissão Europeia, que solicita recursos militares comuns entre países do bloco, complementares aos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), assim como a criação de "um quartel-general único" para "estimular ativamente a investigação e a inovação" nessa área.
O presidente do Executivo europeu, Jean-Claude Juncker, presente na capital eslovaca, aproveitou para propor aos países europeus a aprovação, em março de 2017, de sua proposta de ampliar seu plano de investimentos para 630 bilhões de euros.
Ainda que o Brexit represente a saída de uma das principais potências militares da UE, também significa a retirada de um dos países mais reticentes ao avanço na direção de um exército comum.
No mesmo barco?
O Brexit não estava na agenda da cúpula, mas os líderes europeus desfrutaram de um almoço de trabalho a bordo de um cruzeiro pelo famoso Danúbio, com as futuras relações com Londres como prato principal.
"Não havia muita coisa para dizer, já que Londres ainda não ativou o procedimento de separação" que é exigido pelos 27 países para começar a negociar, indicou um diplomata europeu.
Caso isso seja feito, Tusk assegurou que estão prontos para negociar a saída do Reino Unido a partir de "amanhã".
"A cúpula de Bratislava tem sido até o momento uma conversa franca sobre as opções para fazer a UE avançar. Estamos no mesmo barco, literalmente", tuitou o primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat, durante o almoço.
A defesa da unidade por parte do chefe de governo maltês não deixa esquecer, no entanto, que os líderes tem à frente o desafio de superar suas diferenças, principalmente em temas como a distribuição dos refugiados na UE.
Os países do chamado Grupo de Visegrado (Polônia, Hungria, República Tcheca e Eslováquia) reiteraram nesta sexta-feira (16) sua oposição a um mecanismo obrigatório de divisão dos refugiados, como aquele adotado em setembro de 2015 pela UE a pedido da Itália e Grécia, envolvidas na gestão da crise migratória.
O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, que organiza em outubro próximo um referendo sobre a "realocação" dos refugiados, exigiu que tratem "os húngaros com respeito", após um encontro com o presidente da Eurocâmara, Martin Schulz.
Apesar das diferenças, os 27 líderes se mostraram, segundo sua declaração, decididos a continuar com o "indispensável" projeto europeu, o qual vai garantir a "paz" após as "guerras e profundas divisões" no continente.