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Bustamante defende o "não" ao acordo acertado entre o governo e a Farc

"O acordo está mal concebido, tanto a parte econômica, jurídica e política têm sérios defeitos", afirmou o advogado de 68 anos, que, entre 1985 e 1990, conduziu as relações internacionais da organização guerrilheira

Agência France-Presse
postado em 22/09/2016 10:47

Bogotá, Colômbia - Everth Bustamante pertenceu ao grupo insurgente Movimento 19 de Abril, em 2014 foi eleito senador pelo Centro Democrático (direita) liderado pelo ex-presidente Álvaro Uribe e agora é um dos ferrenhos opositores aos acordos de paz com as Farc. Considerado o "chanceler" do M-19, desmobilizado em 1990, Bustamante é um dos defensores do "Não" ao acordo acertado entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) por considerar que o presidente Juan Manuel Santos "cedeu muitas coisas para a guerrilha".

"O acordo está mal concebido, tanto a parte econômica, jurídica e política têm sérios defeitos", afirmou o advogado de 68 anos, que, entre 1985 e 1990, conduziu as relações internacionais da organização guerrilheira. Entre seus questionamentos está, principalmente, o fato de que considera brandos os castigos contra os responsáveis por crimes hediondos; exige que a indenização das vítimas se facha com dinheiro das Farc provenientes do narcotráfico e não do erário público e critica a participação na política de ex-guerrilheiros acusados de cometer crimes contra a Humanidade.

Segundo o acordo de paz, quem confessar crimes hediondos ante um tribunal especial poderá evitar a prisão e receber penas alternativas. Se não o fizerem, serão declarados culpados e condenados a [SAIBAMAIS]penas de oito a 20 anos de prisão. Os acusados de delitos políticos como rebelião serão anistiados. Os rebeldes terão assegurada uma representação mínima no Congresso de cinco senadores e cinco representantes na Câmara durante dois períodos legislativos, cada um de quatro anos, e poderão disputar eleições.


"Eu pessoalmente estou de acordo que os membros das Farc participem na política, mas não pode haver impunidade para quem tem responsabilidade em crimes contra a Humanidade, como estupros, tortura e sequestro", explicou Bustamante. Ele cita como exemplo o processo de paz de sua organização, de 1991, em que seus integrantes não foram anistiados e tiveram de se apresentar ante tribunais. Por tudo isso, votará "Não" no plebiscito de 2 de outubro, quando os colombianos decidirão se aprovam ou não o acordo negociado em Cuba desde 2012. Segundo as pesquisas publicadas nas últimas três semanas, 28% e 38% dos eleitores optarão pelo "Não".

-"Verdade não substitui justiça"-
Como Bustamante, são milhares de colombianos que rejeitam o conteúdo das 297 páginas do acordo que dá fim a mais de meio século de conflito. Liderando essas pessoas estão os ex-presidentes Álvaro Uribe (2002-2010) e Andrés Pastrana (1998-2002), que consideram que a negociação é uma "entrega do país ao terrorismo" e ao que chamam de "castro-chavismo", algo negado por Bogotá.

Entre os opositores também há artistas, esportistas e celebridades, que reclamam da falta do aspecto punitivo contra os insurgentes ou então a permissão para que os guerrilheiros atuem politicamente. Bustamante, no entanto, reconhece que em um acordo de paz não se pode pretender conseguir "um modelo perfeito".

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