As bombas voltaram a cair nesta sexta-feira (23/9) sobre os bairros rebeldes de Aleppo, onde intensos ataques aéreos do regime sírio e de seu aliado russo causaram morte e destruição como prelúdio de uma ampla operação terrestre.
A onda de ataques contra a parte da cidade onde vivem 250.000 habitantes acontece no momento em que os chefes da diplomacia russa e americana devem se reunir em Nova York para tratar do restabelecimento de uma trégua no país, depois da interrupção do cessar-fogo anterior na última segunda (19).
De acordo com o jornalista da AFP presente na parte rebelde de Aleppo, os bombardeios se sucedem de forma incessante.
Os prédios estão totalmente destruídos e não há como socorrer os habitantes sob os escombros, como no bairro de Al-Kallase. As equipes de resgates insistem nas tarefas, desesperadamente, usando apenas um buldôzer e até as próprias mãos em meio aos destroços de três prédios que desabaram.
Dois centros dos chamados "capacetes brancos" (os voluntários da oposição síria) foram alcançados pelos bombardeios, e um deles ficou totalmente destruído.
Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), ao menos 45 pessoas morreram nesses bombardeios, mas o número pode ser ainda maior, porque muitas pessoas se encontram sob os escombros.
Na zona oeste da província de Aleppo, 12 pessoas morreram em um bombardeio russo na aldeia rebelde de Beshkatin, segundo o OSDH, que também informou que os bombardeios aéreos mataram 11 pessoas em Al-Bab, reduto do grupo Estado Islâmico (EI) na província, sem determinar a nacionalidade dos aviões.
;Aleppo sob ataque;
Dividida desde 2012 entre um setor pró-governamental e outro nas mãos dos insurgentes, Aleppo é um alvo estratégico nesse conflito que já deixou mais de 300.000 mortos em cinco anos e meio de guerra.
O Exército de Bashar al-Assad, que cerca a parte rebelde de Aleppo há dois meses, quer retomar o controle de antiga capital econômica da Síria.
Na quinta-feira (22), foi anunciado o início de uma ofensiva terrestre contra o setor insurgente.
Os militares pediram aos habitantes que se afastem das posições rebeldes, garantindo aos civis que quiserem abandonar essas zonas na direção do setor pró-governo que não serão detidos.
"Começamos as operações de reconhecimento e os bombardeios aéreos e de artilharia", informou uma fonte militar de alto escalão.
"Podem durar horas, ou dias, antes de iniciarmos a operação terrestre, cujo desenvolvimento dependerá do resultado dos ataques e da situação em terra", completou a mesma fonte consultada pela AFP.
Outra fonte militar em Damasco destacou que "o objetivo da operação é ampliar as zonas de controle do Exército".
"O número de combatentes (do regime) permite começar uma operação terrestre, porque chegaram muitos reforços a Aleppo", disse ainda.
"O que está acontecendo é que Aleppo está sendo atacada e todas as partes retomaram as armas", declarou na véspera, em Nova York, o enviado da ONU para a Síria, Staffan de Mistura.
O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, e o secretário de Estado americano, John Kerry, se reuniram nesta sexta em Nova York para debater o restabelecimento de uma trégua, mas não houve resultados significativos.
"Eu me encontrei com o chanceler (russo), trocamos algumas ideias e fizemos alguns pequenos avanços. Estamos avaliando algumas ideias mútuas de forma construtiva. Isso é tudo", disse Kerry à imprensa em um hotel de Nova York.
A reunião de emergência realizada na quinta pelo Grupo Internacional de Apoio à Síria terminou sem um acordo para restabelecer o cessar-fogo.
Em um apelo sem precedentes, a ONU solicitou ao presidente sírio, Bashar al-Assad, que permita distribuir os alimentos bloqueados na fronteira turco-síria, ressaltando que alguns perderão a validade na próxima segunda-feira.
Apesar da violência, a ONU enviou um comboio humanitário a uma zona rebelde cercada na periferia de Damasco.
A ONU anunciou que pretende utilizar uma rota alternativa para enviar ajuda aos bairros rebeldes.
As Nações Unidas realizaram esse envio dois dias depois do bombardeio contra um comboio humanitário que matou 20 pessoas.
O Pentágono responsabilizou a Rússia por esse ataque, embora o chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, Joseph Dunford, não tenha informado se as bombas eram provenientes de um avião do governo sírio, ou de seu aliado russo.