Agência Estado
postado em 27/09/2016 19:29
O Brasil caiu seis posições de 2015 para 2016 e registrou sua marca mais baixa no ranking de competitividade do Fórum Econômico Mundial - que no Brasil é elaborado em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC). O País ficou em 81; lugar na atual edição, dentre os 138 pesquisados, o pior desempenho desde a mudança de metodologia, que começou a valer em 1998.
Segundo a FDC, a queda do Brasil no ranking reflete sinais claros da forte crise econômica e declínio da produtividade vividos pelo País, resultando em menor sofisticação dos negócios e baixo grau de inovação. "O Brasil se distancia de forma significativa dos demais países do grupo dos Brics e do G-20 e perde espaço internacional", diz a entidade em nota.
De acordo com o relatório, os principais fatores por trás dessa tendência de perda de competitividade brasileira são aqueles ligados à atual conjuntura política, mas também dados relacionados a questões estruturais e sistêmicas. "Fatores da conjuntura presente, como a crise econômica e política que vem se deteriorando desde 2014, estão associados a fatores estruturais e sistêmicos, como sistema regulatório e tributário inadequado, infraestrutura deficiente e baixa produtividade, que resultam em uma economia fragilizada e incapaz de promover avanços na competitividade interna e internacional sem maior inserção no mercado mundial", afirma o texto.
Dos 12 pilares estudados, o Brasil caiu em seis deles. A maior queda foi em "Desenvolvimento do mercado financeiro", saindo do 58; lugar em 2015 para a 93; posição em 2016. Também houve piora em "Sofisticação dos negócios" (de 56; para 63;), "Inovação" (de 84; para 100;), "Ambiente econômico" (de 117; para 126;), "Prontidão tecnológica" (de 54; para 59;) e "Tamanho do mercado" (de 7; para 8;). Já a maior alta foi em "Educação superior e treinamento" (da 93; colocação em 2015 para a 84; posição em 2016); seguido de "Eficiência do mercado de trabalho" (de 122; para 117;), "Saúde e educação primária" (de 103; para 99;), "Infraestrutura" (de 74; para 72;) e "Instituições" (de 121; para 120;). No quesito "Eficiência do mercado de bens", o País ficou estável no 128; lugar, o último do ranking global.
Para a FDC, a queda na avaliação do "Ambiente econômico" no Brasil já era prevista. "Com uma dívida pública de R$ 4 trilhões, perspectiva de queda na arrecadação geral, inflação que pouco responde a estímulos e alta nos juros, já eram esperadas perdas fundamentais nesse pilar." Já os ganhos em "Infraestrutura" são vistos como reflexo dos investimentos feitos para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.
No caso do "Desenvolvimento do mercado financeiro", que teve uma queda de 35 posições, o documento aponta que pesou a retração do crédito, aumento dos juros e elevação da inadimplência, dentre outros fatores que denotam maior interferência do Estado sobre o sistema bancário. "A recessão, de fato, diminui a demanda por moeda e por consequência do serviço bancário. O cenário desfavorável agrava ainda mais a expectativa de lucros para o setor financeiro".
Os 12 pilares são agrupados em três subíndices: requerimentos básicos, inovação e sofisticação e potencializadores de eficiência. Como país de médio desenvolvimento, no caso do Brasil o último subíndice recebe maior peso no cálculo final.
Para 2016, o Fórum Econômico Mundial projeta um crescimento da economia global inferior a 2,5%. Já no caso do Brasil a projeção é de queda de 4,5%. Segundo o professor da FDC Carlos Arruda, o dado relacionado à previsão para a atividade brasileira está defasado, mas isso não impacta na posição geral do País no ranking, já que o PIB é mais consequência do que causa da competitividade.
Percepção
Como parte da pesquisa de opinião realizada anualmente pelo ranking de competitividade, foi perguntado aos entrevistados quais os fatores mais problemáticos para fazer negócios no País. Em 2016, a tributação permanece como maior desafio brasileiro, seguido da corrupção, leis trabalhistas restritivas e ineficiência da burocracia estatal.
Arruda explica ainda que um terço dos indicadores que compõem o ranking geral vêm de entrevistas com empresários, que são realizadas sempre de março a maio. Com isso, no caso brasileiro a pesquisa não captou a melhora no otimismo que resultou do impeachment da presidente Dilma Rousseff, efetivado em 31 de agosto. "Os indicadores relacionados a isso sofreram porque não capturaram essa transformação. Nossa previsão é de que no ano que vem haja um reflexo disso, com uma melhora na percepção da comunidade empresarial", explica.
Segundo a FDC, para pôr fim à tendência de queda da competitividade são necessárias reformas como a tributária e previdenciária, que visem de fato solucionar questões insustentáveis no longo prazo. "A maior participação no comércio mundial emana enquanto solução para o Brasil investir mais em setores exportadores, buscando produtos com maior valor agregado e maiores retornos marginais", acrescenta o relatório.
O professor da FDC acredita que 2016 marcou o fundo da poço para a produtividade no Brasil, que deve começar a subir nos próximos anos. Um dos motivos para isso é justamente a expectativa de reformas. "Competitividade é uma corrida, e se você não se movimenta os outros o ultrapassam. Agora o governo começou a se mexer, tivemos as mudanças na Educação anunciadas esta semana, quem sabe sai a reforma trabalhista. O Brasil tem posições muito ruins em vários itens, o que significa que qualquer ganho pode ajudar a subir no ranking", explica.
Arruda não vê um salto grande de posições do Brasil já em 2017, mas diz que o País deve subir alguns degraus e, dentre de três ou quatro anos, pode recuperar boa parte do terreno perdido desde o pico de 2012, quando registrou sua melhor colocação no ranking - a 48; posição. "Uma posição boa para o Brasil atualmente seria algo entre o 45; e o 55; lugar", expõe.
Mundo
Pelo oitavo ano seguido, a Suíça lidera a lista dos países mais competitivos do mundo, desta vez seguida por Cingapura, Estados Unidos, Holanda e Alemanha. Por outro lado, oito dos dez países menos competitivos da pesquisa são africanos (Congo, Libéria, Serra Leoa, Moçambique, Malauí, Burundi, Chade e Mauritânia), com exceção do Iêmen, último colocado, e da Venezuela, imersa em uma crise social, institucional e econômica. "A queda no preço dos produtos primários e o fim do superciclo das commodities tiveram em geral um forte impacto nesses países", diz o relatório.