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Rússia envia mísseis à Síria em meio à atrito diplomático com EUA

"Efetivamente, sistemas de defesa antiaérea S-300 foram mobilizados na República Árabe da Síria", declarou em um comunicado o porta-voz do ministério, Igor Konashenkov

Agência France-Presse
postado em 04/10/2016 21:02

A Rússia enviou baterias de mísseis antiaéreos S-300 para Tartus, cidade costeira do noroeste da Síria, onde os russos têm instalações militares portuárias, em meio à escalada diplomática entre Moscou e Washington sobre este conflito armado.

O anúncio ocorre um dia após a decisão de Washington de suspender as conversações com Moscou sobre um cessar-fogo na Síria, medida anunciada após a destruição total, na segunda-feira, do maior hospital na zona rebelde da cidade de Aleppo em um bombardeio.

"Efetivamente, sistemas de defesa antiaérea S-300 foram mobilizados na República Árabe da Síria", declarou em um comunicado o porta-voz do ministério, Igor Konashenkov.

Estes sistemas completam o dispositivo de defesa posicionado na base aérea de Hmeimim, província de Latakia, em novembro de 2015, com os S-400 de última geração.

A Rússia garante, com estes dois sistemas, uma defesa aérea em seus dois redutos na Síria, o porto de Tartus e a base aérea de Hmeimim, onde a aviação russa possui dezenas de bombardeiros, caças e helicópteros.

"Recordamos que o S-300 é um sistema apenas defensivo e não uma ameaça para ninguém", acrescentou.

Estas baterias S-300 permitem responder à ameaça de mísseis lançados a partir do Mediterrâneo.

Mark Toner, porta-voz do departamento de Estado, informou que as autoridades americanas estão examinando as "opções diplomáticas, militares, de inteligência e econômicas" para enfrentar a crise síria, destacando a necessidade de uma "solução política" para o conflito.

Segundo Toner, o secretário de Estado, John Kerry, segue trabalhando para definir uma solução política junto aos aliados dos Estados Unidos.

"O fato de termos suspendido temporariamente nossa cooperação bilateral com a Rússia em relação à Síria não significa que tenhamos fechado todas as portas para uma ação multilateral", destacou Toner.

Tropas do regime avançam em Aleppo
Em meio ao desentendimento entre as duas grandes potências, as tropas do governo sírio avançavam na cidade de Aleppo, no norte da Síria, se apoderando de vários prédios em sua ofensiva para reconquistar o leste da cidade das mãos dos rebeldes, informou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

As forças governamentais se apoderaram de vários prédios altos no distrito central de Suleiman al Halabi e avançam ao norte, em direção a Bustan al Basha, segundo o OSDH.

"As forças do regime avançam pouco a pouco no centro e progridem mais ao norte em direção a Bustan al Basha após intensos combates nas ruas nesta manhã", disse Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH.

"Estão se concentrando nos prédios altos, que no passado foram edifícios da administração do governo, já que a partir dali podem vigiar ruas e bairros inteiros", disse Abdel Rahman à AFP.

Se as tropas do governo assumirem o controle em Bustan al Basha e de outros bairros rebeldes do norte de Aleppo, a oposição ficará reduzida a uma pequena parte do sudeste da cidade, acrescentou.

No sul da cidade, o distrito de Sheikh Said foi alvo de intensos ataques do regime durante a madrugada desta terça-feira, segundo o correspondente da AFP.

Os bombardeios de segunda-feira em Aleppo-Oriental deixaram 13 mortos, incluindo uma criança.

A agência oficial Sana informou sobre 15 feridos na zona de Aleppo controlada pelo governo devido a um bombardeio rebelde.

Os Estados Unidos invocaram a ofensiva do regime em Aleppo, apoiada pela aviação russa, para suspender as conversações com Moscou sobre um cessar-fogo na Síria.

Limitar veto no Conselho de Segurança
O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, o jordaniano Zeid Ra;ad Al Hussein, declarou nesta terça-feira que a tragédia em Aleppo exige que seja limitado o direito de veto dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

"Estou firmemente convencido de que o Conselho de Segurança das Nações Unidas deve, sem demora, adotar critérios para impedir que seus membros utilizem o direito de veto quando existem preocupações graves com relação a possíveis crimes de guerra, crimes contra a humanidade ou genocídio", declarou Al Hussein.

Os cinco países membros permanentes do Conselho de Segurança com direito de veto são Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China.

"Esta iniciativa crucial permitiria ao Conselho de Segurança das Nações Unidas reenviar o caso da Síria ao Tribunal Penal Internacional (TPI)", explicou.

Diante dos crimes cometidos na Síria, o Alto Comissariado das Nações Unidas e a Comissão de Investigação da ONU sobre a Síria pediram em várias ocasiões que o assunto seja enviado ao TPI.

Esta possibilidade parece pouco verossímil pelo fato de que o Conselho de Segurança está dividido em relação à Síria e a Rússia seguir protegendo seu aliado sírio.

"Não nos esqueçamos de que a destruição de cidades como Varsóvia, Stalingrado e Dresden e o horror infligido aos civis contribuíram fortemente para a criação das Nações Unidas. Não podemos nos permitir fracassar em Aleppo", advertiu o Alto Comissário, que destacou que desde 21 de setembro morreram centenas de civis, entre eles 100 crianças.

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