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Coalizão árabe admite erro em bombardeio contra funeral no Iêmen

Ataques foram realizados sem as precauções habituais destinadas a limitar as baixas civis e sem o consentimento do comando

Agência France-Presse
postado em 15/10/2016 13:54
O mortífero bombardeio da coalizão árabe no Iêmen, que deixou 140 mortos em Saná no sábado (15/10) passado e suscitou uma condenação internacional, foi o resultado de uma "informação errônea", admitiu a equipe encarregada de investigar a matança. Os investigadores, designados pela coalizão liderada pela Arábia Saudita, enfatizam que os bombardeios foram realizados sem as precauções habituais destinadas a limitar as baixas civis e sem o consentimento do comando.

O ataque teve por alvo um salão da capital iemenita, controlada pelos rebeldes huthis, onde era realizada uma cerimônia fúnebre pelo pai de um alto funcionário. "Devido ao descumprimento das regras de enfrentamento e dos procedimentos da coalizão, assim como uma informação errônea, um avião da coalizão atacou erroneamente o local, o que provocou a morte e ferimentos de civis", afirmaram os investigadores. A equipe recomenda a punição das pessoas responsáveis pelo erro, indenizar as vítimas do bombardeio, que deixou também 525 feridos, e revisar as "regras de enfrentamento" nas operações militares no Iêmen.

A coalizão árabe, que está envolvida no conflito iemenita para dar apoio ao presidente Abd Rabbo Mansur Hadi contra os rebeldes huthis, a princípio negou a responsabilidade. Um chefe dos rebeldes huthis afirmou, por sua parte, que um primeiro grupo de 115 pessoas feridas será evacuada para o vizinho Omã. "Trata-se de um primeiro grupo de feridos a ser evacuado e tratado no exterior", declarou o vice-ministro da Saúde das autoridades rebeldes iemenitas, Naser Awjali, sem precisar se outros grupos seriam evacuados mais tarde.

Estes feridos iam ser embarcados em um avião oficial de Omã. O sultanato de Omã é o único país árabe do Golfo que não participa na coalizão contra os rebeldes no Iêmen e mantém bons contatos com os huthis, assim como com o regime do presidente Hadi. O bombardeio foi condenado por inúmeros países e levou os Estados Unidos, aliado da Arábia Saudita, a anunciar uma revisão de seu apoio à coalizão no Iêmen.

Durante a semana, a ONU exigiu que se responsabilize e julgue os envolvidos no bombardeio que matou as 140 pessoas. "Temos que fazer todo o possível para garantir que os autores destes ataques desumanos cheguem à Justiça", disse o representante da ONU para o Iêmen, Ismail Uld Sheikh Ahmed, após se reunir com o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Marc Ayrault.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, defendeu a criação de uma comissão independente que investigue as violações dos direitos humanos no Iêmen, afirmando que o Conselho de Direitos Humanos, com sede em Genebra, deve realizar uma "investigação completa", depois que o organismo negou-se no mês passado a iniciá-la.

A guerra no Iêmen país causou 6.885 mortos desde março de 2015, quase a metade dosquais civis, segundo a ONU. A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch afirma que esses bombardeios equivaleriam a um crime de guerra e destacou que eram desproporcionais ante a evidente presença de civis durante a cerimônia.

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