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Forças curdas capturam nove vilarejos e avançam rumo a Mossul

Nações Unidas temem crise humanitária sem precedentes

Rodrigo Craveiro
postado em 18/10/2016 06:00

Tropas iraquianas celebram conquista de posições do Estado Islâmico na região de Al-Shourah, 45km ao sul de Mossul: linha de defesa construída

Da linha de frente em Khazr ; vilarejo situado 14km a leste de Mossul ;, o major Islam Chali, 35 anos, comemora o avanço das forças peshmerga rumo à segunda maior cidade do Iraque. Pelo menos 600 mil de 1,5 milhão de habitantes de Mossul estão sob o domínio do Estado Islâmico (EI) desde junho de 2014. ;Nó conseguimos libertar nove vilas próximas, cobrindo uma área de 200km2;, afirmou ao Correio, por mensagem de áudio via WhatsApp. Chali comanda 10 mil dos 25 mil combatentes mobilizados para a captura de Mossul. ;Nós matamos mais de 70 militantes do Estado Islâmico e perdemos seis peshmerga. Hoje (ontem), o Daesh (acrônimo em árabe para EI) não lutou frente a frente. Os jihadistas enviaram até nós carros-bomba e morteiros. Eu acredito que eles travarão combates dentro de Mossul, onde mantêm cerca de 2.500 homens;, acrescentou. Em toda a região, o EI conta com entre 3 mil e 4.500 extremistas prontos para os combates, que ameaçam uma grave crise humanitária. A agência de notícias Amaq, pertencente à facção terrorista, anunciou que oito ataques suicidas foram realizados ontem pelos jihadistas.

Chali explica que os curdos construíram uma linha de defesa em torno dos nove vilarejos conquistados. ;A segunda fase da operação deve começar em poucos dias, e nós prosseguiremos até liberarmos Mossul. O símbolo da liberação será quando nossas tropas se deslocarem pelo centro da cidade;, disse. De acordo com o major, a queda de Mossul pode representar um forte golpe nas estruturas hierárquica e financeira da facção terrorista. Abu Bakri Al-Baghdadi, o autointulado líder do califado islâmico e chefe do grupo, teria se refugiado em Mossul. Quando o Daesh perder Mossul, também perderá dinheiro. Os poucos moradores que seguem o grupo o abandonarão;, prevê o major peshmerga. Ele enviou à reportagem um vídeo em que era possível ver os corpos de cinco combatentes do EI no chão, às margens de uma estrada.

Por meio de um comunicado, o Comando-geral das Forças Peshmerga na Região do Curdistão anunciou que, às 6h de ontem (1h em Brasília), uma operação coordenada em larga escala foi lançada pelos curdos em Khazr com o apoio de forças de segurança iraquianas em Gwer e em Gayyara, ambas ao sul de Mossul. Os combatentes avançaram em três frentes e contaram com o auxílio de aviões de guerra da coalizão internacional, que bombardearam posições do EI na véspera da incursão terrestre e devem manter suporte aéreo durante a ofensiva. ;Hoje, é um ponto de virada na guerra contra o terrorismo. É a primeira vez que as forças peshmerga e o Exército iraquiano cooperam e lutam na mesma área;, declarou o presidente do Curdistão iraquiano, Masoud Barzani, em uma entrevista coletiva concedida perto de Mossul. ;Nós estamos esperançosos de que essa operação será bem-sucedida e que Mossul será liberada. Mas isso não significa que a ameaça terrorista estará acabada;, alertou.

Êxodo
A Organização das Nações Unidas (ONU) teme uma grave crise humanitária e estima que pelo menos 100 mil habitantes possam fugir de Mossul. ;Algumas famílias enfrentam um risco extremo de ficar no meio do fogo cruzado ou de se tornarem alvos de franco-atiradores;, alertou Stephen O;Brien, vice-secretário-geral para Assuntos Humanitários e para Assistência de Emergência da ONU, citado pela agência de notícias France-Presse. ;Fazemos todo o possível para que sejam tomadas todas as medidas caso ocorra o pior cenário humanitário. Mas tememos que ainda haja muito a ser feito;, admite Lise Grande, coordenadora humanitária da ONU para o Iraque. ;No pior dos casos, nos encaminhamos literalmente para a maior operação humanitária de 2016.;

Sob condição de não ter o sobrenome revelado, Ali ; morador de Mossul ; contou ao Correio que os jihadistas do EI cercaram a cidade. ;Nós temos vivido na injustiça e na opressão. Somos tratados como infiéis por eles. O EI é uma invenção do Irã para dominar áreas sunitas e torturar a população. Nesses dois últimos anos de jugo do Daesh, nós temos sofrido com assassinatos, roubos, estupros e sequestros;, comentou. Ele acredita que os terroristas da facção ajudam o regime do presidente sírio, Bashar Al-Assad, a eliminar a oposição.

No início da manhã de ontem, o premiê iraquiano, Haider Al-Abadi, fez um pronunciamento eufórico em rede nacional de televisão. ;O tempo da vitória chegou, e as operações para libertar Mossul começaram;, declarou. ;Hoje, declaro o início das operações vitoriosas para libertá-los da violência e do terrorismo do Daesh.; Logo depois, uma coluna de veículos blindados partiu de uma localidade a 45km da cidade. Enquanto as forças peshmerga avançavam, um atentado suicida reivindicado pelo EI sacudia a região sul de Bagdá. Um homem-bomba se explodiu contra um posto de controle do exército, matando 10 pessoas.

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