Com as chances de chegar à Casa Branca cada vez mais limitadas, o candidato presidencial da oposição republicana, Donald Trump, decidiu apostar em uma arriscada estratégia para a reta final da campanha para a eleição de 8 de novembro. Depois de recusar, na noite de quinta-feira, o compromisso de se comprometer a aceitar os resultados das eleições, durante o último debate com Hillary Clinton, o presidenciável republicano insistiu na acusação de que há um plano para corromper a eleição. Em comício no estado de Ohio, o empresário afirmou que aceitará a decisão das urnas, mas fez uma pausa dramática antes de condicionar o reconhecimento à própria vitória. ;Quero prometer a todos os meus eleitores que aceitarei totalmente os resultados dessa grandiosa e histórica eleição presidencial ; se eu vencer;, disparou.
;Isso é mais do que apenas uma mentira regular. Não é uma questão para fazer piada. Isso é perigoso, porque, quando você tenta plantar sementes de dúvida na mente das pessoas sobre a legitimidade das nossas eleições, isso enfraquece a democracia;, questionou o presidente Barack Obama.
Na imprensa americana, a declaração de Trump foi rejeitada até por membros do Partido Republicano. No palanque, o empresário argumentou que só recuaria se o resultado da votação fosse ;claro;. Disse que não descartava apresentar acusações legais em caso de um ;resultado questionável;. ;Vou seguir e respeitar todas as regras e tradições de todos os candidatos que vieram antes de mim;, afirmou. ;O importante é: vamos vencer.;
Trump comparou a situação à apertada disputa entre o democrata Al Gore e o desafiante republicano George W. Bush, em 2000, e justificou o posicionamento considerando que nunca teria havido recontagem dos resultados na votação na Flórida se os concorrentes tivessem se comprometido previamente a aceitar sem condições os números iniciais.
O argumento do empresário, porém, não foi aceito integralmente entre os correligionários, que já se queixavam de fraude antes do debate final. Enquanto observadores questionavam o compromisso do concorrente com a democracia e a abertura de precedentes perigosos para o sistema político, parte dos opositores teme que o partido venha a ser alvo de questionamentos em outras disputas.
Em comunicado, o respeitado senador John McCain, um dos desafetos de Trump dentro da legenda, lembrou que não gostou do resultado das eleições de 2008 ; quando disputou a Casa Branca com Barack Obama.;McCain lembrou, porém, que tinha, na ocasião, o ;dever de reconhecer; a vitória do rival. ;A concessão não é apenas um exercício de graciosidade. É um ato de respeito pela vontade do povo americano, um respeito que é a primeira responsabilidade de cada líder da América;, afirmou.
Enquanto o governador do Maine, Paul LePage, se limitava a classificar o posicionamento de Trump como ;estúpido;, o senador Mike Lee, de Utah, considerou que o caso era tão ;inaceitável; que o candidato deveria abandonar a disputa.
Dissuasão
Adam Levine, especialista em comunicação política e professor da Cornell University, considera ;preocupante; que o candidato de um dos principais partidos questione a legitimidade do processo eleitoral. Levine observa que, além de enfraquecer os fundamentos democráticos, as acusações de que as eleições são alvo de fraude desencorajam a participação dos eleitores.
Em uma disputa onde o voto é facultativo, a desmobilização política parece fazer parte da estratégia de Trump. Levine, porém, observa que a vantagem cada vez mais confortável de Hillary sobre o republicano, nas sondagens, e a falta de credibilidade do empresário entre os eleitores de Hillary limitam os efeitos de suas alegações. ;Nossos estudos mostram que o tipo de pessoas que podem ser afetadas por essa retórica são aquelas que ainda não se registraram, como os jovens.;