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Mapa da eleição nos EUA mostra caminhos para vitória de Hillary Clinton

E a oposição republicana perde redutos históricos, arrastada pela rejeição a Donald Trump



Habitualmente divididos entre estados azuis e vermelhos, o mapa das preferências políticas nos Estados Unidos pode estar prestes a experimentar mudanças na eleição presidencial de 8 de novembro. Diante da rejeição à candidatura de Donald Trump dentro do próprio Partido Republicano (representado pelo vermelho), Hillary Clinton, que disputa a Casa Branca pelo Partido Democrata (o time azul), tem ganhado espaço em tradicionais redutos adversários. Apesar de ter problemas com os índices elevados de desaprovação entre parcelas consideráveis do eleitorado, a candidata governista avança e coloca em xeque a capacidade da oposição para superar divisões internas e recuperar a capacidade de mobilização.

A consolidação da vantagem de Hillary nas pesquisas nacionais de opinião começou a se desenhar antes mesmo da rodada de debates, aberta no início do mês. A pouco mais de duas semanas da votação, a ex-secretária de Estado chega à reta final da disputa presidencial com 48% das intenções de voto, contra 42% para Trump, segundo a média calculada pelo site analítico Real Clear Politics. Mas é na observação das disputas em cada um dos 50 estados que a vantagem da democrata se torna mais clara (veja infografia).

Embora as medições nacionais sejam um bom termômetro para a popularidade do candidato, o sistema de voto indireto determina a vitória a partir do resultado da disputa em cada unidade da federação. Em uma eleição marcada por intensa polarização, Hillary mantém o cenário confortável nos bastiões democratas e tem explorado espaços para projetar a candidatura também em território opositor.

;Isso é muito significativo para a dinâmica política deste país;, observa Dewey Clayton, professor de ciência política da University of Louisville, no Kentucky. ;Ela precisa de apenas 270 votos no Colégio Eleitoral, e alguns analistas dizem que tem chances de conseguir 352. Para Trump, que vem perdendo terreno em estratos tradicionalmente republicanos, o caminho para a vitória se torna cada vez mais estreito.

Pesquisas mostram que o apoio à chapa republicana em estados como Arizona, Geórgia, Carolina do Norte, Texas e até o ultraconservador Utah perde força a ponto de a campanha democrata intensificar a presença nessas regiões, com a esperança de ver o vermelho trocado pelo azul, na noite da eleição.

Mulheres decidem

Segundo a imprensa americana, o que Hillary busca é uma vitória de lavada, para silenciar as alegações de Trump de que as eleições são alvo de fraude e afastar questionamentos sobre sua força política. Para Anthony Gaughan, observador político e professor de direito eleitoral da Drake University, em Iowa, a sequência de acusações de assédio sexual contra o empresário complica sua situação entre o eleitorado conservador e aumenta as chances de que ele sofra uma derrota esmagadora. ;Se Hillary ganhar na Pensilvânia e na Carolina do Norte, não há chances para Trump vencer a disputa. E ela tem uma vantagem significativa nesses estados;, avalia.

Clayton concorda que a polêmica sobre a forma como Trump trata as mulheres pode ter sido fatal para o candidato. ;Mulheres brancas com ensino superior vão decidir essa eleição;, aposta. ;Essas mulheres normalmente elegem republicanos, mas acho que vão votar em Hillary.;

Em Nevada, estado onde Trump tinha mais chances de virar o jogo, as últimas pesquisas indicam queda no apoio ao republicano, ultrapassado pela rival governista por quatro pontos percentuais. Na Flórida, um dos tradicionais swing states ; onde a preferência do eleitorado oscila a cada eleição ;, com um dos maiores contingentes de delegados ao Colégio Eleitoral, a vantagem é também de quatro pontos para Hillary.

À intensa polarização da disputa se soma a resistência dos eleitores a dividir o votos entre mais de um partido. Apenas 4% dos entrevistados pelo instituto YouGov pretendem escolher, para o Congresso, candidatos de filiação partidária distinta da chapa presidencial preferida. Nesse quadro, o analista da University of Louisville observa que o possível triunfo de Hillary deve ser acompanhado por bons resultados para os democratas na disputa pelo Senado.

;A campanha dela está tirando recursos de alguns estados e colocando em outros. Está gastando a fim de ajudar os democratas que concorrem ao Senado;, observa. ;Se ela ganhar a presidência, terá um caminho mais fácil para governar se contar com maioria democrata na casa, para ajudar a passar sua agenda legislativa.;

Zebra no Oeste


Reduto da comunidade mórmon e um dos estados mais conservadores dos EUA, Utah tem se revelado menos favorável à chapa republicana, neste ano, do que no histórico das eleições presidenciais. Enquanto Donald Trump enfrenta dificuldades entre os eleitores religiosos, o candidato de terceira via Evan McMullin, ex-congressista e funcionário da Agência Central de Inteligência (CIA), rouba votos preciosos do polêmico empresário. McMullin concorre como independente e seu nome deve aparecer nas cédulas de votação em apenas 11 estados. Embora quase desconhecido em nível nacional, em Utah ele lidera a pesquisa mais recente, da Emerson College, com 31% das intenções de voto, contra 27% para Trump e 24% para Hillary Clinton.