Agência France-Presse
postado em 29/10/2016 10:06
Determinados a virar a página, os islandeses começaram a votar neste sábado nas legislativas antecipadas que poderiam levar o Partido Pirata, de inspiração libertária e de esquerda, à liderança do Parlamento.
Se, como antecipam as pesquisas, a atual coalizão de direita for derrotada, a Islândia experimentará a terceira grande virada política desde 2009, com os eleitores optando pela alternância.
As assembleias de voto abriram às 9h00 (7h00 de Brasília) em Reykjavik, uma hora mais tarde no campo. A votação terminará às 22h00.
Os resultados serão anunciados logo após, mas apenas um turno de votação não é suficiente para alcançar uma maioria e, apenas depois de negociações, surgirão as novas forças políticas do país.
Os Piratas, atrás do Partido da Independência (direita), mas à frente do movimento Esquerda-Verde, poderiam, pela primeira vez, dar as cartas.
Liderada pela ativista do WikiLeaks Birgitta Jonsdottir, esta formação heterogênea selou um acordo pré-eleitoral com três partidos de oposição de esquerda e de centro (Esquerda-Verdes, social-democratas e Futuro brilhante) para formar um governo de coalizão.
"Estes partidos podem cooperar muito bem, eles têm muito em comum. Esta será uma escolha do governo bastante viável", explicou a presidente do Esquerda-Verdes, Katrin Jakobsdottir, possível futura primeira-ministra.
Três pesquisas divulgadas na sexta-feira apontam o Partido da Independência na liderança (com entre 22,5 e 27%).
Logo atrás os "Piratar" (17,9 - 21,2%) e o movimento Esquerda-Verdes (16,2 a 16,8%), de acordo com pesquisas da Universidade de Reykjavik e dos institutos Gallup e MMR.
Tradicionalmente, o presidente islandês confia ao líder do partido que vence a votação a tarefa de negociar uma coalizão, mas o aliado do Partido da Independência, o Partido Progressista, conta com apenas 10% dos votos. Desta forma, o chefe de Estado poderia optar diretamente pela aliança anunciada pelos Piratas.
Para Birgir Armannsson, deputado do Partido da Independência, que, com o Partido do Progresso (centro-direita) governa o país desde 2013, a sanção das urnas é, sem dúvida, dada ao "sentimento anti-establishment" que prevalece na Islândia.
Esta rejeição aos partidos tradicionais tem suas origens na crise financeira de 2008 e com o escândalo dos Panamá Papers que derrubou em abril o primeiro-ministro David Sigmundur Gunnlaugsson (Partido do Progresso), cujo nome estava em uma lista de 600 titulares islandeses de contas offshore.
Se a Islândia, ilha de 332.000 habitantes, se recuperou economicamente (mais de 4% de crescimento previsto para este ano, graças ao turismo e a um sistema financeiro reestruturado, os islandeses, especialmente os mais jovens, continuam a nutrir grande desconfiança em relação as elites do país.