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Mexicanos temem vitória de Trump em eleições dos EUA

Trump se converteu em inimigo do México desde que classificou os imigrantes mexicanos de estupradores e traficantes de drogas

postado em 06/11/2016 13:46
Com um tom evidente de irritação, os mexicanos expressam seu medo de que o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, vença as eleições de 8 de novembro. Trump se converteu em inimigo do México desde que classificou os imigrantes mexicanos de estupradores e traficantes de drogas no início de sua campanha eleitoral, em 2015.
[SAIBAMAIS]
Como sinal de repúdio, os mexicanos destruíram pinhatas com a figura de Trump. Outros queimaram bonecos gigantes do magnata durante a tradicional "queima de Judas" realizada no Sábado de Aleluia na Semana Santa. Com seu estridente discurso, o candidato de cabeleira loira inspirou centenas de caricaturistas, que já publicaram um livro repleto de excrementos com o formato de sua inconfundível cabeleira e símbolos nazistas.

"Palhaço" e "fanfarrão"

"Esse homem é um palhaço, um fanfarrão" que dificilmente cumprirá "50% das coisas que está dizendo", afirmou confiante, embora irritado, Jafet Granados, estudante de biotecnologia de 18 anos, perto do emblemático monumento Ángel de la Independencia.

Mas até o governo mexicano se prepara para as prováveis consequências negativas de uma vitória de Trump sobre a democrata Hillary Clinton. O peso mexicano subiu e baixou dependendo das pesquisas nos Estados Unidos.

Na última terça-feira sofreu um retrocesso, e o peso passou de 19,50 a 19,20 unidades por dólar depois que as pesquisas revelaram que Trump tinha 46% das intenções de voto contra 45% para Hillary.
O ministro da Fazenda, José Antonio Meade, advertiu que uma vitória de Trump - que também prometeu renegociar o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (TLCAN) - provocaria volatilidade, mas que o México está preparado e isso não afetará seu crescimento anual.

O governo prepara inclusive um plano de contingência caso o panorama econômico se abale seriamente com uma vitória de Trump, disse o governador do Banco do México (Banxico, central), Agustin Carstens, que advertiu que Trump seria como um furacão para o México.

Relação bilateral mais tensa

Trump também despertou revolta por sua ameaça de forçar o México a pagar pela construção de um muro ao longo dos 3.000 km de fronteira que separam os dois países.

"A relação bilateral se tornará mais rígida do que normalmente é (...) a maioria dos mexicanos não gostaria da vitória" de Trump, disse à AFP José Antonio Crespo, especialista do Centro de Pesquisas Econômicas e Docência (CIDE).

O presidente Enrique Peña Nieto defendeu sua surpreendente decisão de se encontrar com Trump - uma reunião realizada em agosto - como uma necessidade de dialogar com o homem que pode ser o próximo presidente dos Estados Unidos, mas reconheceu que este encontro causou indignação em grande parte dos mexicanos.

Se Trump vencer será uma "desgraça"

Marcos Reyes, funcionário de uma empresa de publicidade de 46 anos, comentou também com certa amargura que teme que Trump expulse dos Estados Unidos os migrantes mexicanos que já vivem naquele país e que os mexicanos que viajarem para lá tenham "poucas chances" de superação.

As grosserias de Trump provocaram mal-estar até mesmo entre o representante do Partido Republicano dos Estados Unidos no México, Larry Rubin, que tem dupla nacionalidade, a ponto de na sexta-feira passada ter anunciado que não votará nele.

A vitória do magnata "não seria boa para os Estados Unidos e muito menos para a relação entre Estados Unidos e México. Sua retórica foi muito negativa nesta disputa (...) seria uma desgraça. Não vejo como pode melhorar a relação bilateral", disse Rubin à rede Televisa.

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