postado em 09/11/2016 16:33
Paris, França - A vitória de Donald Trump nos Estados Unidos foi recebida como um balde d;água fria na França, onde a hipótese de uma vitória da líder da ultradireita, Marine Le Pen, nas eleições presidenciais de 2017 não pode ser totalmente descartada.
"Parabéns ao novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e ao povo americano livre", tuitou a presidente da Frente Nacional (FN) uma hora antes da divulgação dos resultados oficiais do outro lado do Atlântico.
O vice-presidente do partido de extrema-direita, Louis Aliot, aplaudiu o que qualificou de "corte de asas de uma elite arrogante".
"Hoje os Estados Unidos, amanhã a França. Bravo", escreveu, exultante, o fundador da Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, que passou as rédeas de seu partido para a filha em 2011.
"A eleição de Donald Trump é uma boa notícia para a França", avaliou posteriormente a líder da extrema-direita em declaração transmitida pela televisão.
A França celebrará eleições presidenciais no ano que vem. Segundo as pesquisas de opinião, Le Pen passaria ao segundo turno, como aconteceu com seu pai em 2002. Mas seria derrotada pelo candidato de centro-direita, possivelmente o moderado Alain Juppé ou o ex-presidente Nicolas Sarkozy.
Mas Marine Le Pen espera demonstrar que as sondagens podem se equivocar. Pesquisas de opinião não anteciparam a vitória de Donald Trump, o Brexit ou o repúdio ao acordo de paz com as Farc na Colômbia.
"Marine Le Pen pode vencer"
O risco de que o cenário americano se reproduza na França despertou inquietação entre os dirigentes políticos franceses.
A vitória de Trump é uma "advertência adicional para os que pensam que Marine Le Pen não pode chegar ao poder na França em 2017", escreveu o jornal francês de esquerda Libération.
A escolha que o povo americano fez mostra que "o populismo extremista pode vencer" comentou o ex-premiê de direita Jean-Pierre Raffarin. "Inclusive Marine Le Pen, com suas respostas simples, pode vencer na França".
Para o presidente François Hollande, os políticos devem "tomar consciência de das inquietações que provocam as desordens do mundo nos povos".
De fato, a extrema-direita francesa conseguiu capitalizar os temores despertados no país após a onda de ataques extremistas, concentrando o discurso político na imigração e na identidade nacional, seus temas preferidos.
Além disso, o fluxo migratório, sem precedentes na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, joga a seu favor, pois exacerba os sentimentos xenófobos entre alguns setores da população.
Le Pen, que ficou em terceiro nas eleições presidenciais de 2012, tem outra "ventagem enorme, a de nunca ter estado no poder", destacou recentemente o pesquisador Jean-Yves Camus. Uma vantagem com a qual Trump também contava.
"Não participamos do sistema", declarou no mês passado a líder ultradireitista francesa em entrevista com a CNN, traçando um paralelo entre sua candidatura e a do bilionário do setor imobiliário, a quem já tinha declarado seu apoio, em julho.
"Não dependemos de ninguém, não vamos receber ordens desta ou daquela potência financeira ou destes ou aqueles interesses de multinacionais", assegurou.
Mesmo assim, o sistema eleitoral francês, um sistema majoritário em dois turnos, dificulta uma vitória de Marine Le Pen.
Este sistema "torna necessário contar com uma coalizão para convencer para além de seu próprio campo e vencer", explicou o cientista político Jo;l Gombin.
Desde 1958, "nenhum partido conseguiu obter mais de 50% dos votos" e "a Frente Nacional adota justamente este repúdio às alianças", o que seduz uma parte dos eleitores, mas a priva de votos no segundo turno, acrescenta.