postado em 14/11/2016 06:08
Washington, Estados Unidos -Em entrevista exibida no domingo no canal CBS, o presidente recém-eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, disse estar "entristecido" com as notícias sobre perseguições e intimidações a minorias, deflagradas após sua vitória nas urnas, e finalmente pediu seu fim.
Ao mesmo tempo, no entanto, afirmou que se governo deportará ou vai prender até três milhões de imigrantes sem documentos assim que assumir a presidência.
"Odeio ouvir isso. Estou tão entristecido de ouvir isso", declarou, sobre as perseguições a minorias, no programa "60 Minutes", em sua primeira longa entrevista desde que foi eleito.
Em seguida, afirmou claramente: "Se isso ajuda, vou dizer isso, e vou dizer direto para as câmeras: parem com isso".
Na mesma conversa, garantiu aos americanos que vêm tomando as ruas em inúmeras cidades do país que eles não têm razão para ter medo do futuro.
"Não tenham medo. Vamos trazer nosso país de volta", assegurou.
Ele insistiu, porém, em que - em muitos casos - se trata de manifestantes "profissionais".
"Acabamos de ter uma eleição e a gente deveria ter algum tempo. Tem gente protestando. Se Hillary (Clinton) tivesse ganhado, e meus eleitores estivessem protestando, todos diriam ;oh, que coisa horrível;, e teria uma atitude diferente", comentou.
"Há dois pesos e duas medidas aqui", reclamou.
Outro ponto abordado - caro ao eleitorado conservador - diz respeito às suas indicações à Suprema Corte.
Segundo ele, os juízes serão favoráveis a restrições ao aborto e defenderão o direito constitucional de portar armas, mantendo os direitos em vigor sobre seu acesso e posse.
"Os juízes serão pró-vida", afirmou, acrescentando que "em termos de toda a situação das armas, serão muito pró-Segunda Emenda".
Em mais um tema polêmico, o magnata republicano garantiu que não buscará derrogar a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo no país.
"É a lei. Foi estabelecida pela Suprema Corte, quero dizer, está feito", frisou, ao ser questionado sobre se apoia uniões gays.
"E eu - eu não tenho problemas com isso", completou.
Com uma fortuna estimada em US$ 3,7 bilhões, o republicano revelou que abrirá mão do salário de presidente - US$ 400 mil ao ano - e receberá o valor simbólico de US$ 1 ao ano, obrigatório por lei.
"Não vou ficar com o salário. Não vou ficar", disse ao "60 Minutes", confirmando uma promessa de campanha, feita em um vídeo em setembro passado.
Deportação
Trump afirmou ainda que cumprirá sua promessa de deportar milhões de imigrantes em situação ilegal nos Estados Unidos.
"O que estamos fazendo é pegar essa gente que é criminosa e suas fichas criminais, membros de gangues, traficantes, que totalizam dois, talvez três milhões. E vamos tirá-los do país e vamos fazer com que sejam presos", declarou.
Trump fez da segurança na fronteira entre México e Estados Unidos um dos pontos centrais de sua campanha eleitoral.
Na entrevista à CBS, o magnata revelou que o muro que prometeu fazer na fronteira com o México não será apenas de tijolos, e sim terá cercas em alguns trechos.
"Poderá haver cercas", afirmou Trump em sua primeira entrevista na televisão depois de eleito.
"Mas, para certas áreas, um muro é mais apropriado. Sou muito bom nisso", disse à CBS.
Newt Gingrich, um dos principais nomes ligados ao magnata, lançou dúvidas sobre se Trump obrigará o México a custear a construção desse muro.
"Dedicará muito tempo a controlar a fronteira. Talvez não gaste muito tempo tentando fazer o México pagar por ele, mas foi uma grande estratégia de campanha", desconversou Gingrich, segundo The Washington Post.
Trump também disse que manterá alguns pontos da reforma de Saúde promovida pelo presidente Barack Obama, a qual tanto criticou na corrida para a Casa Branca.
Sua diretora de campanha, Kellyanne Conway, declarou, porém, ao canal Fox, neste domingo, que essa reforma, conhecida como "Obamacare", será "derrogada".
Trump também confirmou que continuará usando sua conta no Twitter. Para ele, trata-se de uma grande ferramenta. A diferença agora é que o tom será mais moderado - explicou o empresário.
Chefe de gabinete anunciado
O presidente recém-eleito dos Estados Unidos anunciou Reince Priebus como chefe de gabinete da Casa Branca, e Steve Bannon como principal estrategista e assessor.
"Estou entusiasmado que minha bem-sucedida equipe continue comigo para liderar o nosso país", afirmou Trump em um comunicado, dando início à esperada divulgação dos membros de seu futuro governo.
"Steve e Reince são líderes altamente qualificados, que trabalharam bem, juntos na nossa campanha, e nos lideraram para uma vitória histórica. Agora terei ambos comigo na Casa Branca, enquanto trabalhamos para fazer a América grande de novo", completou, recorrendo a seu slogan de campanha.
Priebus, de 44 anos, é presidente do Comitê Nacional do Partido Republicano. Sua nomeação é vista como um gesto de aproximação da estrutura partidária, por parte de Trump, já que a maioria dos figurões republicanos lhe deu as costas na campanha.
Priebus é considerado um dirigente partidário próximo do atual presidente da Câmara de Representantes, Paul Ryan, um dos mais enérgicos críticos de Trump na corrida eleitoral, de forma que pode ser uma ponte essencial para uma governabilidade tranquila.
Já a indicação de Bannon é ainda mais polêmica.
Aos 62 anos, Bannon é o diretor-executivo da empresa que controla o "site" Breitbart, que reflete as posições dos setores mais à direita do Partido Republicano e é, com frequência, acusado de dar voz a teorias conspiratórias, muitas vezes de alto conteúdo racial.
Bannon é um feroz crítico da cúpula republicana, de forma que sua convivência com Priebus no alto escalão do governo abre muitas interrogações.
Por France Presse