Mundo

Merkel pode se tornar líder do mundo livre após vitória de Trump

A visita de Barack Obama nesta quinta e sexta-feira a Berlim aumenta as expectativas depositadas na chanceler alemã, a quem qualificou de "provavelmente a aliada internacional mais próxima nos últimos oito anos"

postado em 16/11/2016 17:44

Berlim, Alemanha - A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos com um discurso populista, o autoritarismo na Rússia e na Turquia e uma União Europeia em crise levam alguns especialistas a se perguntarem se Angela Merkel se tornará a nova "líder do mundo livre".

"A expressão ;líder do mundo livre; costuma ser aplicada ao presidente dos Estados Unidos, muitas vezes ironicamente. Eu me atreveria a dizer que a partir de agora a líder do mundo livre é Angela Merkel", considerou o historiador britânico Timothy Garton Ash, professor em Oxford, em uma coluna publicada no jornal britânico The Guardian.

A visita de Barack Obama nesta quinta e sexta-feira a Berlim aumenta as expectativas depositadas na chanceler alemã, a quem qualificou de "provavelmente a aliada internacional mais próxima nos últimos oito anos".

O presidente em fim de mandato não se despedirá da Europa no Reino Unido, aliado tradicional de Washington, mas na Alemanha, como quem passa o bastão.


"A eleição de Donald Trump faz com que Angela Merkel seja a última defensora dos valores humanistas do Ocidente", considerou o The New York Times. Para o jornal alemão de esquerda Taz, "a importância da chanceler aumentará e ela deve manter a coesão da UE, fazer frente a Putin e a Erdogan, além de controlar Donald Trump".

E isso porque Trump é partidário do princípio "America first" (Estados Unidos primeiro), inclusive nas relações transatlânticas.

As alternativas de liderança na Europa, enfraquecida com o aumento do populismo, não são muitas. O Reino Unido estará ocupado durante anos com o Brexit e a França e Itália atravessam crises econômicas internas.

Em contexto semelhante, os alemães dão como certo a candidatura de Merkel a um quarto mandato nas eleições legislativas de 2017. "Ela se apresentará e atuará como uma líder responsável", declarou um membro de seu partido, Norbert R;ttgen, à emissora CNN.

De fato, a popularidade da chanceler aumentou desde as eleições americanas e ela poderia anunciar suas intenções no domingo.

"Diante da repercussão da vitória eleitoral de Trump na Europa, pensará sem dúvidas que sua tarefa não está terminada e que deve continuar conduzindo a Europa", considerou Daniela Schwarzer, diretora do instituto de pesquisas alemão DGAP.

Em sua mensagem parabenizando Donald Trump, Angela Merkel foi muito clara e o relembrou da importância dos valores democráticos.

"As expectativas (depositadas na Alemanha) para que façamos oposição às tendências antidemocráticas são uma responsabilidade histórica e espero que estejamos à altura", resumiu à AFP Stefani Weiss, especialista da fundação alemã Bertelsmann.

Com Donald Trump, a chanceler terá que enfrontar uma tendência de retirada de Washington. "Sob a era de Obama já se viu uma distensão na relação transatlântica e que os Estados Unidos não querem e não podem mais ser os gendarmes do mundo", afirmou a analista.

Fica por ver qual será a margem de manobra de Merkel, cujo país não faz parte do Conselho de Segurança da ONU e que, apesar do envio recente de soldados ao Mali para lutar contra os extremistas islâmicos ou à Lituânia diante da ameaça russa, não é muito partidária das intervenções militares.

Diante das intenções de Donald Trump de melhorar as relações com o presidente russo Vladimir Putin, "a política pró-ocidental de Merkel a respeito da Rússia poderia acabar em desastre", avaliou o jornal alemão Die Welt.

Trump se choca com outros pilares de Merkel, como sua política migratória generosa, a defesa do livre comércio a nível mundial e a necessidade de lutar contra a mudança climática.

"A tarefa de Merkel se complicou infinitamente", advertiu Constanze Stelznmüller, analista da Fundação Robert Bosch, em uma coluna no Washington Post.

Por France Presse

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação