postado em 20/11/2016 08:01
Pelo quarto fim de semana consecutivo, uma multidão tomou ontem as ruas centrais da capital sul-coreana, Seul, para exigir a renúncia da presidente Park Geun-hye, suspeita de corrupção em um escândalo de tráfico de influência que tem como pivô uma amiga de longa data e mentora espiritual. Choi Soon-sil, 60 anos, foi detida no mês passado e é acusada de ter utilizado as relações com Park para obrigar grandes conglomerados industriais, como a Samsung, a fazer doações para fundações criadas por ela, que usava o dinheiro para fins pessoais.
Meio milhão de pessoas, segundo os organizadores, desfilaram ao longo do dia com cartazes denunciando a presidente, entoando o coro de ;Park Geun-hye, renuncie;. Ao anoitecer, dezenas de milhares permaneciam na avenida principal de Seul, com velas acesas e a disposição de entrar pela madrugada em vigília. A polícia de Seul calculou o número de manifestantes em cerca de 150 mil. As manifestações contra a mandatária são as maiores desde a campanha pela democratização do país, nos anos 1980, e na semana passada teriam somado 1 milhão de participantes em todo o país, segundo os coordenadores do movimento.
Desculpas
;Ela é uma criminosa, como podemos aceitá-la como presidente? Ela tem que cair;, disse à agência de notícias France-Presse Lee Won-cheol, técnico de informática, 48 anos. Embora Park continue resistindo à pressão das ruas, já fez dois pronunciamentos pela tevê para se desculpar publicamente por ;depositar excessiva confiança em uma relação pessoal;. Ela também se comprometeu a cooperar sem reservas com as investigações. Desde o início dos protestos, sua popularidade despencou, e a taxa de aprovação nas últimas pesquisas de opinião ficou em 5%.
A Justiça sul-coreana deve formalizar hoje as acusações contra a amiga da presidente, que estava nos Estados Unidos quando o escândalo foi revelado pela imprensa, no fim de outubro. Dois assessores de alto escalão do governo também devem ser acusados. Choi Soon-sil é filha de um obscuro guia espiritual que era próximo do pai da mandatária, o falecido ex-presidente Park Chung-hee. Quando se pronunciou sobre o caso, a primeira mulher a governar o país desmentiu que permitisse a celebração de rituais xamanísticos na Casa Azul, como é chamado o palácio presidencial.