postado em 21/11/2016 13:15
Istanbul, Turquia - A decisão de conceder ao presidente Recep Tayyip Erdogan o poder de nomear os reitores das universidades na Turquia, após o fracassado golpe de Estado, provoca inquietação nos campi, onde professores e estudantes temem a interferência do governo.
Na semana passada, Erdogan designou Mehmed ;zkan para substituir a muito popular Gülay Barbarosoglu, que havia sido eleita com folga para comandar prestigiosa Universidade do Bósforo, símbolo da elite do país.
O governo afirma que substituir as eleições de reitores por uma nomeação direta permite evitar as lutas de clãs nas universidades.
Os opositores à medida acusam o governo de querer reforçar seu controle sobre os campi, redutos da liberdade de opinião, e comparam a iniciativa à nomeação de administradores para governar os municípios curdos no sudeste do país.
Após a tentativa de golpe de 15 de julho, as eleições de reitores nas 181 universidades do país foram suspensas. Agora o presidente da República escolhe uma pessoa entre três candidatos propostos pelo Conselho de Ensino Superior (Y;K).
No prazo de um mês após a apresentação da lista de candidatos do Y;K, o presidente pode, se assim desejar, escolher outro nome para ocupar o cargo.
À primeira vista, a tranquilidade reina na Universidade do Bósforo, mas um olhar mais atento comprova a inquietação.
"Se estou inquieto? Sim, muito. E os estudantes também", confessa um professor que pede anonimato.
- Após o golpe frustrado, o expurgo -
Após a tentativa de golpe de julho, o governo executou um expurgo que afetou em particular as universidades, com a detenção de centenas de professores.
Poucos dias depois do golpe frustrado, o Y;K exigiu a demissão de 1.577 decanos de universidades públicas e privadas.
Após a nomeação de ;zkan para como seu substituto, Barbarosoglu - eleita em 12 de julho com 86% dos votos para comandar a Universidade do Bósforo - anunciou o fim de sua carreira acadêmica.
Seu sucessor, que tem um irmão deputado que pertence ao partido governista AKP, não havia apresentado a candidatura à disputa.
Após a substituição, protestos foram registrados e dois estudantes detidos, mas já liberados.
"Nosso combate não é político. Defendemos a autonomia acadêmica para que as universidades permaneçam à margem da política", afirmou à AFP Mert Nacakgedigi, diretor do Comitê de Estudantes da Universidade de Bósforo.
"A universidade não foi consultada antes da nomeação de Ozkan. Não houve debate", lamentou.
O governo alega, sem convencer os opositores, que o novo processo permite evitar a polarização dos corpos acadêmico e de estudantes nas eleições para o posto de reitor.
O novo reitor da Universidade do Bósforo se comprometeu a "redobrar esforços" para proteger a liberdade de opinião no campus, ao tomar posse nesta segunda-feira.
Mas a promessa não tranquilizou muitos estudantes, que temem o fim da diversidade política e de opiniões no ambiente universitário.
Por France Presse