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Trump preocupa ícone da luta pelo casamento gay nos EUA

O presidente eleito comentou este mês na televisão que o casamento gay "é lei" e que apoia a igualdade matrimonial, mas "quem sabe o que Trump realmente acredita, porque um dia ele diz uma coisa e depois outra", disse o ativista Obergefel

postado em 22/11/2016 15:20
Trump preocupa ícone da luta pelo casamento gay nos EUA
Miami, Estados Unidos - A Suprema Corte dos Estados Unidos legalizou em 2015 o casamento homossexual e marcou um ponto de inflexão nos direitos dos gays. Mas para Jim Obergefell, o viúvo que liderou o processo coletivo, a futura presidência de Donald Trump é uma preocupação.

O presidente eleito comentou este mês na televisão que o casamento gay "é lei" e que apoia a igualdade matrimonial, mas "quem sabe o que Trump realmente acredita, porque um dia ele diz uma coisa e depois outra", sustenta Obergefell.


"E Mike Pence, o vice-presidente eleito, é o político mais anti LGBT que existe. Ele me assusta, além do fato de as câmaras do Congresso estarem sob o controle republicano", contou em uma entrevista à AFP durante a Feira do Livro de Miami.

E este novo governo irá querer "reverter o casamento gay e apoiar as terapias de conversão, que nada mais é do que abuso infantil", acrescentou. "Querem anular cada pequeno progresso que conseguimos na luta pela igualdade".

Ainda que Obergefell diga que é difícil a Suprema Corte voltar atrás em sua sentença - seria necessário uma "conjuntura perfeita" muito improvável - ele teme que projetem políticas que afetem a comunidade LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transgênero e intersexuais) ou invalidem as leis antidiscriminação. Um exemplo é o direito dos transgênero de usar os banheiros públicos que correspondam a sua identidade de gênero.

A batalha para ele tem sido longa, mas agora seu nome está nos livros de História. "Ainda não parece real", contou, "porque tudo começou de uma forma muito inocente".

"John e eu decidimos nos casar porque finalmente conseguimos, mas o governo federal não nos reconhecia", disse sobre seu falecido esposo, com quem teve uma relação de 20 anos.

John Arthur, parceiro de Jim Obergefell, morreu em 2013 de esclerose lateral amiotrófica (ELA). Três meses antes, John e Jim decidiram se casar em Maryland, porque em Ohio, onde viviam, o casamento gay não era legal.

Mas quando Obergefell soube que o atestado de óbito de John constaria que ele era "solteiro", seu coração ficou partido.

Jim entrou com um processo e, após uma longa disputa que incluiu 14 demandantes de quatro estados, a Suprema Corte lhe deu uma sentença favorável.

"O amor vence"


Essa é a história de "Love Wins" (O amor vence), um livro da jornalista do Washington Post Debbie Cenziper que é visto ao mesmo tempo como um conto de amor e uma lição de direito americano.

Durante a entrevista no Miami Dade College, Obergefell usava terno e gravata borboleta e chegou acompanhado por Cenziper.

"Love Wins", disse a autora, "não se trata apenas de esposos que tentam proteger esposos, mas também de pais que querem proteger seus filhos, e por isso as histórias deste livro são tão comoventes".

Um dos personagens mais profundos é Al Gerhardsteins, advogado de Direito Civil humilde, apaixonado e comprometido, e que no fundo foi o artífice desta mudança de rumo na Constituição americana.

"Al cresceu em uma fazenda nos arredores de Cleveland, Ohio", contou Cenziper. "E viajou a cidade de Cincinnati para lutar pelas pessoas que não tinham voz, não tinham direitos e nem poder. Mulheres, crianças".

"O interessante de Al é que este caso era seu, e Jim e os demais demandantes o adoravam, mas ainda assim decidiu não defender a causa diante da Suprema Corte para deixar que outro advogado com mais experiência fizesse".

"Isso foi muito complicado para ele, mas decidiu pelo bem de seus clientes, pois é necessário um treinamento particular para argumentar diante da Suprema Corte", contou Cenziper.

Em relação ao amor, às vezes há segundas chances. Obergefell contou que está superando a perda de seu marido e começando a seguir em frente.

"Levei um tempo para viver o luto e processá-lo. Mas há cerca de um ano e meio comecei a me sentir mais aberto e voltei a sair. Vamos ver o que vai acontecer", concluiu.

Por France Presse

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