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Colômbia e Farc impulsionam novo acordo de paz contra o tempo e Uribe

"Temos toda a disposição para dialogar com o governo e as Farc sobre as modificações nos temas referidos. Para este diálogo propomos aproveitar a presença em Bogotá dos líderes das Farc", disse Uribe

postado em 22/11/2016 16:20

Bogotá, Colômbia
- Com o tempo e o ex-presidente Álvaro Uribe contra eles, o governo da Colômbia e as Farc impulsionavam nesta terça-feira a implementação do novo acordo de paz selado há 10 dias, após incluir propostas de setores que rejeitaram nas urnas o acordo original.

Membros da cúpula guerrilheira, incluindo seu líder máximo, Rodrigo Londoño ("Timochenko"), chegaram nesta segunda-feira a Bogotá para acertar os últimos detalhes da assinatura oficial do texto, mas também com outro tema de fundo: a onda de assassinatos e ameaças a líderes sociais que pode prejudicar a realização do pacto de paz.

Essa violência se une a outros dois obstáculos no caminho para acabar com um conflito armado de mais meio século. Na noite de segunda-feira, o atual senador Álvaro Uribe, após alguns dias de suspensão, rejeitou o novo acordo e pediu, em troca, uma reunião com as Farc.


"Temos toda a disposição para dialogar com o governo e as Farc sobre as modificações nos temas referidos. Para este diálogo propomos aproveitar a presença em Bogotá dos líderes das Farc", disse Uribe, pedindo, por exemplo, que não se permita a elegibilidade política de responsáveis por crimes atrozes enquanto cumprem suas penas e que o acordo não seja incluído na Constituição.

O encontro com Uribe foi praticamente descartado nesta terça-feira pelo comandante guerrilheiro Pablo Catatumbo, membro da equipe negociadora de paz das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas), que disse que não permitirão que o ex-presidente "atrase" a aplicação do acordo.

"Uribe governou mal, corrompeu e encheu a Colômbia de sangue durante oito anos e nunca quis a paz, mas a derrota das Farc. Isso não pode. Atrasar não", escreveu no Twitter.

Tampouco o alto comissário para a paz do governo, Sérgio Jaramillo, considerou lógica a petição de Uribe. Principalmente se "partirmos do princípio de que o acordo se encerrou", disse à Blu Radio.

"Que sentido pode ter essa reunião? Já não sei, é um decisão do presidente da República (realizá-la ou não), mas lembremos que o acordo está concluído", enfatizou.

Jaramillo fez essas declarações após participar na noite de segunda-feira de uma reunião com representantes de setores que se opuseram ao acordo de paz original no plebiscito de 2 de outubro, para explicar-lhes as alterações introduzidas no texto após sua renegociação com as Farc em Cuba, onde as partes dialogaram durante quatro anos.

"Acreditamos que o que devemos fazer é, com o acordo terminado, passar à implementação, que urge e que tem milhares de temas e detalhes onde possam ser dadas ainda mais garantias (aos opositores) além das muitas que já demos com as mudanças que fizemos", disse.

"Realmente temos um problema de tempo extremamente grave. Uma guerrilha não pode ficar na incerteza como as Farc estão e temos que passar para a implementação", acrescentou.

Santos também se referiu ao "momento crítico" em que o processo de paz com as Farc se encontra, em uma coluna publicada nesta terça-feira no jornal americano Wall Street Journal, na qual se diz "orgulhoso de trabalhar com o Congresso (...) para implementar este acordo melhorado".

As Farc e o governo mantêm um cessar-fogo bilateral desde o fim de agosto, apesar da rejeição ao acordo nas urnas e cuja "fragilidade" é uma das razões pelas quais insistem na rápida implementação do pacto.

Na semana passada, dois guerrilheiros das Farc morreram em supostos confrontos com o Exército. Foi o primeiro incidente notificado durante o cessar-fogo e, também, na segunda-feira a guerrilha denunciou "um genocídio" em andamento contra líderes sociais do país.

Nesta terça-feira, Santos presidia uma reunião de alto nível sobre direitos humanos para buscar frear essa onda de violência, que segundo a guerrilha já deixou ao menos três mortos, além de dois atentados nos últimos três dias.

Por France Presse

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