postado em 26/11/2016 17:20
Fidel Castro, que morreu na sexta-feira aos 90 anos, projetou sua revolução para além da ilha de Cuba, enviando ao exterior guerrilheiros, soldados, médicos e professores, imbuído de um internacionalismo qualificado como subversão pelos seus inimigos.
[SAIBAMAIS]Em 1948, Fidel, estudante de direito de 22 anos, participou da revolta popular desencadeada em Bogotá pelo assassinato do líder liberal Jorge Eliécer Gaitán. Um ano antes, tinha se envolvido em uma expedição frustrada contra o ditador dominicano Rafael Trujillo.
Foi no seu exílio no México que conheceu, em 1955, o argentino Ernesto Guevara, o Che, que o acompanhou no iate Granma quando desembarcou em 1956 para iniciar a guerra de guerrilhas com seus "barbudos" na Sierra Maestra.
Barbudos pelo mundo
Fidel Castro tratou de impulsar a esquerda no Terceiro Mundo contra os Estados Unidos. Médicos, enfermeiras, professores, combatentes, técnicos, assessores militares e agentes de segurança foram enviados à África, Ásia e América Latina.
"Mais de meio milhão de cubanos cumpriram missões internacionalistas como técnicos ou combatentes. Criamos a cultura do internacionalismo frente ao chauvinismo", disse Castro em 2006, pouco antes da infecção intestinal que lhe obrigou a ceder o comando para seu irmão Raúl.
Pouco depois de chegar ao poder, Fidel disse que Cuba seria hospitaleira com os exilados das ditaduras na América Latina. Em 1960, apoiou guerrilhas na Venezuela, e em 1961 um barco cubano levou armas para a Argélia, que lutava contra o colonialismo francês. Após a independência, médicos cubanos prestaram serviço nesse país.
Um, dois, três Vietnã
Em 1963, um batalhão de tanques cubanos viajou para a Argélia, em guerra com o Marrocos, e em 1965 Che Guevara passou um ano no Congo à frente de um batalhão de guerrilheiros cubanos, enquanto se iniciava a preparação de quadros para os movimentos independentistas da Angola e Guiné-Bissau.
A estratégia foi sintetizada pelo Che em uma mensagem lançada ao mundo, com o slogan "criar um, dois, três Vietnã".
Em 1964, fracassou na Argentina um movimento guerrilheiro com apoio de Havana, com a morte do seu líder, o jornalista Jorge Ricardo Masetti.
Paralelamente, Cuba começou a ajudar e treinar movimentos esquerdistas na América Latina, praticamente em todos os países, exceto o México.
"Ser solidário e dar alguma forma de cooperação a um movimento revolucionário não significa exportar a revolução (...), ninguém pode exportar as condições objetivas que tornam possível uma revolução", se defendeu Fidel.
Algumas ações militares secretas foram conhecidas pelo público apenas nos últimos anos.
No final de 1966, o Che se trasladou à Bolívia, onde foi capturado e executado em outubro de 1967. Seus planos eram fazer desse país o centro da revolução regional.
Em 1975, começou a guerra anticolonial em Angola e em outros países africanos apoiados por Cuba. Mais de 400.000 soldados cubanos prestaram serviço durante 16 anos nesse conflito, e 2.289 deles morreram.
No final dos anos 1970 e nos 1980, Cuba apoiou militarmente e civilmente a Nicarágua sandinista e, de acordo com o Vietnã, enviou armas americanas aos guerrilheiros salvadorenhos.
Os fuzis M-16 americanos usados pelos guerrilheiros comunistas chilenos quando emboscaram a caravana de carros do ditador Augusto Pinochet em 1986 eram da Guerra do Vietnã, e foram levados por embarcações pesqueiras cubanas para a costa chilena.
A hora dos civis
A queda do Muro de Berlim em 1989 deixou Cuba em uma solidão política e determinou o fim das ações militares fora de suas fronteiras, embora tenha continuado em outros campos.
Uma iniciativa elogiada no mundo inteiro foi o envio, em outubro de 2014, de 256 médicos e paramédicos cubanos às três nações mais afetadas pelo mortal vírus do ebola na África Ocidental: Libéria, Serra Leoa e Guiné.
Em 2015, Cuba mantinha cerca de 48.500 colaboradores do setor da saúde em 91 países, além de 16.000 de educação, esporte e outros setores.
Além disso, cerca de 30 brigadas médicas ajudaram em terremotos, inundações, furacões, erupções vulcânicas e epidemias na América Latina, África e Ásia.
Por France-Presse