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Fidel é sepultado. Começa uma nova era em Cuba

Em cerimônia sóbria, as Cinzas do ditador cubano são depositadas em rocha retirada da Sierra Maestra. Dissidentes não descartam abertura

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A imprensa ficou do lado de fora do cemitério de Santa Efigênia, em Santiago de Cuba, no extremo leste da ilha socialista. Em uma cerimônia sóbria e sem discursos, um membro da guarda de honra entregou a Raúl Castro a pequena urna de cedro com as cinzas do ditador Fidel, por volta das 6h50 (9h50 em Brasília). O líder cubano a depositou no nicho escavado em uma rocha cinzenta, de 4m de altura, que teria sido retirada da Sierra Maestra, berço da Revolução Cubana. Após uma placa de mármore com o nome ;Fidel;, em alto relevo, selar a cripta, Raúl prestou continência diante dos restos mortais do irmão. Em uma mesma fila, acompanhavam o enterro os chefes de Estado Nicolás Maduro (Venezuela), Daniel Ortega (Nicarágua) e Evo Morales (Bolívia), além dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, e membros do Birô Político do Partido Comunista de Cuba (PCC). Todos depositaram rosas brancas na base da cripta de Fidel.
[SAIBAMAIS]
;Foi realmente comovente dar o último adeus ao líder da Revolucão Cubana. Após o ato celebrado na Praça da Revolução Major General Antonio Maceo Grajaes, o povo permaneceu ali, durante toda a noite para uma vigília como homenagem póstuma;, contou ao Correio Rey Luis Correa Fonseca, locutor da Rádio Mambí, em Santiago de Cuba.

;O féretro saiu da praça às 6h35.; No trajeto até o cemitério, a multidão gritava ;Eu sou Fidel;, ;Até sempre, Comandante; e ;Até a vitória, sempre;. Rey relatou ter visto o último cortejo fúnebre do Comandante.

;Ele foi caracterizado pela austeridade e pela simplicidade.; Assim que o mausoléu foi lacrado, 21 salvas de artilharia anunciaram que os restos mortais de Fidel repousavam na histórica cidade.


;Do ponto de vista simbólico, com as cinzas de Fidel, estão enterrando também a Revolução Cubana;, admitiu à reportagem Sebastian Arcos, vice-diretor do Instituto de Pesquisa Cubana da Universidade Internacional da Flórida. No entanto, ele explica que o regime segue firme no poder, por meio de Raúl, o qual teve 10 anos de preparação para este momento. ;Raúl é tão repressivo, tão antidemocrático quanto o irmão. A curto prazo, não haverá transformação fundamental na natureza do regime castrista. Raúl sempre foi uma espécie de extensão de Fidel. A médio e a longo prazos, a situação muda, pois, historicamente, a morte de um líder fundador de uma revolução sempre ocasiona reformas fundamentais;, disse. O especialista prevê alterações drásticas em uma década.

Na noite de sábado, durante discurso de meia hora em homenagem ao irmão, Raúl anunciou que apresentará à Assembleia Nacional do Poder Popular as propostas legislativas para que a vontade de Fidel prevaleça. ;Ante os restos de Fidel na Praça da Revolução Major General Antonio Maceo Grajales, na heroica cidade de Santiago de Cuba, juremos defender a pátria e o socialismo! E, juntos, reafirmemos todos a frase do Titã de Bronze: ;Quem tentar apropriar-se de Cuba recolherá o pó de seu solo alagado de sangue, se não perecer na luta;. Fidel! Fidel! Até a vitória!”, bradou o presidente cubano, enquanto a multidão respondia com ;Raúl é Fidel!” e ;Raúl, tranquilo, o povo está contigo!”.

Exilados

Entre aqueles cubanos que foram obrigados a fugir da ilha, a expectativa, após o enterro de Fidel, alternava entre esperança e cautela. ;Não me parece que, de forma imediata, se produza mudanças no governo de Cuba, a não ser que surja o imponderável. Até o momento, os moncadistas (nomenclatura usada pelos castristas) estão bem identificados com o seu propósito de conservar o poder;, afirmou à reportagem Pedro Corzo, preso político entre 1964 e 1972, exilado em Miami desde 1992. Ele não descarta o surgimento de contradições, seja por motivos econômicos, seja pela busca de poder; e lembra que Cuba é governada ;por uma máfia poderosa, com ética bem particular;.

Presidente da organização Plantados hasta la Libertad y la Democracia e prisioneiro de Fidel entre 1963 e 1983, Ángel de Fana, 77, admite que a morte do ditador tem grande significado para os cubanos, vítimas da tirania castrista. ;A nova era não vai começar com a inumação das cinzas do tirano, mas quando Cuba assistir a uma mudança rumo à democracia e ao respeito pelos direitos humanos;, disse ao Correio, por telefone, de Miami. ;Eu não sinto pena alguma pela morte de um assassino, de um tirano que lançou a pátria na miséria. Sob o atual sistema, não há possibilidade de os jovens terem uma vida melhor, de viverem em liberdade e usarem a internet como quiserem. É um sistema totalitário;, concluiu.

Lula e Dilma

Na chegada a Santiago de Cuba, Lula falou à imprensa cubana e disse que a amizade com Fidel teve início três décadas atrás. ;Fazia muitos meses que eu queria vir a Cuba e ver Fidel, mas não foi possível. Quando soube da notícia, a maneira que encontrei de expressar meus pêsames foi escrever na parede ;Viva, Fidel!’. Estou triste, se foi o maior homem do século 20;, afirmou o ex-presidente. Dilma, por sua vez, chamou o Comandante de ;grande amigo nosso;. ;Seu exemplo será eterno para a América Latina, neste momento de dor, principalmente para o Brasil;, comentou.

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