Mundo

Fidel é sepultado. Começa uma nova era em Cuba

Em cerimônia sóbria, as Cinzas do ditador cubano são depositadas em rocha retirada da Sierra Maestra. Dissidentes não descartam abertura

Rodrigo Craveiro
postado em 05/12/2016 06:00

[VIDEO1]

A imprensa ficou do lado de fora do cemitério de Santa Efigênia, em Santiago de Cuba, no extremo leste da ilha socialista. Em uma cerimônia sóbria e sem discursos, um membro da guarda de honra entregou a Raúl Castro a pequena urna de cedro com as cinzas do ditador Fidel, por volta das 6h50 (9h50 em Brasília). O líder cubano a depositou no nicho escavado em uma rocha cinzenta, de 4m de altura, que teria sido retirada da Sierra Maestra, berço da Revolução Cubana. Após uma placa de mármore com o nome ;Fidel;, em alto relevo, selar a cripta, Raúl prestou continência diante dos restos mortais do irmão. Em uma mesma fila, acompanhavam o enterro os chefes de Estado Nicolás Maduro (Venezuela), Daniel Ortega (Nicarágua) e Evo Morales (Bolívia), além dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, e membros do Birô Político do Partido Comunista de Cuba (PCC). Todos depositaram rosas brancas na base da cripta de Fidel.
[SAIBAMAIS]
;Foi realmente comovente dar o último adeus ao líder da Revolucão Cubana. Após o ato celebrado na Praça da Revolução Major General Antonio Maceo Grajaes, o povo permaneceu ali, durante toda a noite para uma vigília como homenagem póstuma;, contou ao Correio Rey Luis Correa Fonseca, locutor da Rádio Mambí, em Santiago de Cuba.

;O féretro saiu da praça às 6h35.; No trajeto até o cemitério, a multidão gritava ;Eu sou Fidel;, ;Até sempre, Comandante; e ;Até a vitória, sempre;. Rey relatou ter visto o último cortejo fúnebre do Comandante.

;Ele foi caracterizado pela austeridade e pela simplicidade.; Assim que o mausoléu foi lacrado, 21 salvas de artilharia anunciaram que os restos mortais de Fidel repousavam na histórica cidade.

Raúl Castro coloca a urna de cedro no mausoléu...
;Do ponto de vista simbólico, com as cinzas de Fidel, estão enterrando também a Revolução Cubana;, admitiu à reportagem Sebastian Arcos, vice-diretor do Instituto de Pesquisa Cubana da Universidade Internacional da Flórida. No entanto, ele explica que o regime segue firme no poder, por meio de Raúl, o qual teve 10 anos de preparação para este momento. ;Raúl é tão repressivo, tão antidemocrático quanto o irmão. A curto prazo, não haverá transformação fundamental na natureza do regime castrista. Raúl sempre foi uma espécie de extensão de Fidel. A médio e a longo prazos, a situação muda, pois, historicamente, a morte de um líder fundador de uma revolução sempre ocasiona reformas fundamentais;, disse. O especialista prevê alterações drásticas em uma década.

Na noite de sábado, durante discurso de meia hora em homenagem ao irmão, Raúl anunciou que apresentará à Assembleia Nacional do Poder Popular as propostas legislativas para que a vontade de Fidel prevaleça. ;Ante os restos de Fidel na Praça da Revolução Major General Antonio Maceo Grajales, na heroica cidade de Santiago de Cuba, juremos defender a pátria e o socialismo! E, juntos, reafirmemos todos a frase do Titã de Bronze: ;Quem tentar apropriar-se de Cuba recolherá o pó de seu solo alagado de sangue, se não perecer na luta;. Fidel! Fidel! Até a vitória!”, bradou o presidente cubano, enquanto a multidão respondia com ;Raúl é Fidel!” e ;Raúl, tranquilo, o povo está contigo!”.

Exilados

Entre aqueles cubanos que foram obrigados a fugir da ilha, a expectativa, após o enterro de Fidel, alternava entre esperança e cautela. ;Não me parece que, de forma imediata, se produza mudanças no governo de Cuba, a não ser que surja o imponderável. Até o momento, os moncadistas (nomenclatura usada pelos castristas) estão bem identificados com o seu propósito de conservar o poder;, afirmou à reportagem Pedro Corzo, preso político entre 1964 e 1972, exilado em Miami desde 1992. Ele não descarta o surgimento de contradições, seja por motivos econômicos, seja pela busca de poder; e lembra que Cuba é governada ;por uma máfia poderosa, com ética bem particular;.

Presidente da organização Plantados hasta la Libertad y la Democracia e prisioneiro de Fidel entre 1963 e 1983, Ángel de Fana, 77, admite que a morte do ditador tem grande significado para os cubanos, vítimas da tirania castrista. ;A nova era não vai começar com a inumação das cinzas do tirano, mas quando Cuba assistir a uma mudança rumo à democracia e ao respeito pelos direitos humanos;, disse ao Correio, por telefone, de Miami. ;Eu não sinto pena alguma pela morte de um assassino, de um tirano que lançou a pátria na miséria. Sob o atual sistema, não há possibilidade de os jovens terem uma vida melhor, de viverem em liberdade e usarem a internet como quiserem. É um sistema totalitário;, concluiu.

Lula e Dilma

Na chegada a Santiago de Cuba, Lula falou à imprensa cubana e disse que a amizade com Fidel teve início três décadas atrás. ;Fazia muitos meses que eu queria vir a Cuba e ver Fidel, mas não foi possível. Quando soube da notícia, a maneira que encontrei de expressar meus pêsames foi escrever na parede ;Viva, Fidel!’. Estou triste, se foi o maior homem do século 20;, afirmou o ex-presidente. Dilma, por sua vez, chamou o Comandante de ;grande amigo nosso;. ;Seu exemplo será eterno para a América Latina, neste momento de dor, principalmente para o Brasil;, comentou.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação