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Governo sírio bombardeia leste de Aleppo antes de reunião EUA-Rússia

A Força Aérea e a artilharia síria continuavam atacando os últimos bairros rebeldes nessa cidade do norte do país, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH)

postado em 10/12/2016 15:54
Alepo, Síria -O governo sírio apertava cada vez mais o cerco sobre o leste de Aleppo, neste sábado (10), com intensos bombardeios contra as últimas posições rebeldes, e apesar das acusações de "crimes contra a humanidade" dos Estados Unidos.

A Força Aérea e a artilharia síria continuavam atacando os últimos bairros rebeldes nessa cidade do norte do país, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Os ataques foram intensos, e era possível ver colunas de fumaça no céu de vários setores, de acordo com um correspondente da AFP.

"Os bombardeios têm uma intensidade inédita", disse à AFP Ibrahim Abu al-Leith, porta-voz dos Capacetes Brancos, socorristas presentes em Aleppo.

"As ruas estão cheias de gente sob os escombros. Morrem, porque não podemos tirá-las de lá", acrescentou.

Em Paris, os chefes da diplomacia de dez países ocidentais e árabes contrários ao governo de Bashar al-Assad voltaram a pedir o fim do tormento dos civis, mas o sentimento de impotência era palpável.

Presente na reunião da capital francesa, a oposição síria disse estar disposta a "retomar as negociações sem condições prévias", explicou o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Marc Ayrault.

"Os bombardeios indiscriminados do regime violam as leis, ou, em muitos casos, [constituem] crimes de lesa-humanidade e crimes de guerra", declarou o secretário de Estado americano, John Kerry, após o encontro.

O governo de Bashar Al-Assad já controla 85% dos bairros que estavam nas mãos dos rebeldes antes da ofensiva lançada em 15 de novembro, que causou a morte de mais de 400 civis e a fuga de cerca de 80.000 pessoas do leste de Aleppo.

Segundo o OSDH, cerca de 2.000 civis abandonaram, neste sábado, os bairros rebeldes com destino à zona controlada pelo Exército.

Os rebeldes continuam lançando foguetes contra os bairros pró-governo, onde pelo menos 105 civis morreram em mais de três semanas.

;Pior catástrofe; desde 1945
As forças de Assad recebem o apoio de combatentes iranianos e do Hezbollah libanês, assim como da Rússia. Na sexta-feira, Moscou afirmou que a ofensiva de Aleppo continuaria até a saída de todos os rebeldes.

A ONU afirma que grupos rebeldes e extremistas impediam que os civis abandonaram a zona de combates e se manifestou preocupação com o suposto desaparecimento de centenas de homens que entraram no setor pró-governo.

Em Genebra, também neste sábado, acontece uma nova reunião "técnica" de russos e americanos para falar de um possível cessar-fogo.

"A prioridade é a evacuação dos civis", pediu o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura.

Os observadores acreditam que a queda da cidade, principal bastião dos rebeldes, é inevitável e pode representar um marco nesta guerra que já deixou mais 300.000 mortos desde 2011.

Mais soldados americanos
Na sexta-feira, a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução não vinculante, na qual pedia "o cessar completo de todos os ataques contra os civis" na Síria, assim como o fim dos cercos com "um acesso humanitário rápido, seguro, prolongado, sem obstáculos e incondicional".

Deflagrada pela repressão brutal de manifestações pacíficas, a guerra da Síria se transformou em um um conflito complexo, com a ascensão de grupos extremistas, como o Estado Islâmico (EI), e com o envolvimento de forças regionais e potências internacionais.

As frentes se multiplicaram em um território muito dividido, onde uma multidão de atores se enfrenta: o governo, os rebeldes, os extremistas e os curdos, apoiados por diferentes forças internacionais.

Desde 2014, uma coalizão internacional dirigida pelos Estados Unidos bombardeia o EI na Síria, sobretudo, em Raqa (norte), a capital "de facto" dos extremistas.

Hoje, o secretário americano da Defesa, Ashton Carter, anunciou o envio de mais 200 soldados à Síria, incluindo membros das forças especiais, treinadores, conselheiros e especialistas em explosivos.

O novo contingente reforçará os 300 soldados americanos que já estão na Síria para aconselhar a coalizão curdo-árabe que tenta expulsar o EI de Raqa.

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