postado em 13/12/2016 15:33
Aleppo, Síria - O centro histórico de Aleppo, famoso por seus mercados e sua imponente cidade centenária, está hoje irreconhecível após anos de uma guerra sem tréguas que destruiu a segunda cidade da Síria.
A metrópole no norte da Síria foi durante séculos a capital econômica do país, assim como um importante centro cultural que atraía turistas do mundo inteiro, dispostos a admirar seus lugares históricos e vestígios das numerosas civilizações que ocuparam uma das cidades mais antigas do planeta.
[SAIBAMAIS]No momento só se vêem poucos gatos andando nas ruelas cobertas de escombros do centro histórico, Patrimônio Mundial da Unesco.
As barricadas de areia e os restos de veículos queimados invadiram o espaço da célebre praça de Al Hatab, uma das mais antigas da cidade.
O advogado e historiador Alaa al Sayyed, nascido na cidade, não consegue acreditar no que vê. "Nem sequer poderia reconhecê-la, de tão danificada que está. Pensei ;não pode ser a praça de Al Hatab".
Durante quatro anos, o centro histórico tem sido uma dos fronts de guerra. Seus vestígios guardam marcas incessantes dos combates do grupo dos rebeldes, donos dos bairros do leste, às forças do regime, que controlavam o oeste.
Em 7 de dezembro, os rebeldes tiveram que abandonar o centro histórico, derrotados pela ofensiva lançada pelo regime em meados de novembro.
;Herança insubstituível;
As perdas provocadas pela violência nos últimos anos são inestimáveis.
O mirante seljúcida da mesquita dos Omeyas, edificada no século XI, desmoronou.
A cidadela, joia da arquitetura militar islâmica da Idade Média, cuja construção começou no século X, perdeu uma parte de suas imponentes muralhas.
E o fogo destruiu parte do souq, um dos maiores mercados cobertos do mundo com suas 4.000 tendas e 40 caravasares, que atraiu durante séculos os artesãos e mercadores de todo o planeta.
"Era o coração econômico de Aleppo, e faz parte de uma herança insubstituível", lamenta Sayyed.
"Atacá-lo é dar um golpe decisivo na economia de Aleppo, já que milhares de famílias, ricas e pobres, dependiam do mercado para ganhar a vida", relatou.
Abu Ahmad, de 50 anos, é um exemplo. Esse comerciante possuía várias tendas no centro histórico, onde vendia as coloridas telas que tecia.
Obrigado a abandonar seu próspero comércio, comprou um pequeno quiosque no bairro central de Furkan, onde prepara café e outras bebidas quentes para os habitantes.
"Tive que vender as joias de minha mulher para comprar este quiosque", lamenta Abu Ahmad, com lágrimas nos olhos.
Ele sonha com a volta do antigo mercado, com esperança de que alguma de suas tendas ainda esteja de pé.
"Sou um comerciante e não quero abandonar meu comércio. Quero transmití-lo a meu filho", disse.
Cidade fantasma
A guerra assolou o setor turístico próximo à cidade, incluindo a mesquita de Al Sultaniya.
E no bairro vizinho chamado Qayul, os imóveis residenciais destruídos pelos combatentes se estenderam até onde a vista alcança. Nas janelas, cujos vidros quebraram por causa das explosões, podem ser vistos cortinas azuis esfarrapadas que se movem com o vento.
Um gato de rua se move entre os escombros e se concentra em cheirar um corpo decomposto na metade da estrada.
O cemitério local também não se livrou dos combates. Algumas lápides rachadas descansam sob o gramado seco.
Reina o silêncio no bairro de Bab al Hadid onde se encontra uma das portas da Aleppo medieval.
E perto da praça homônima, construída em 1509, a bandeira da oposição, com suas três estrelas vermelhas, está pintada nas fachadas das tendas.
Em uma parede do bairro deserto, um graffiti promete: "Del Hauran (região do sul a Aleppo), a revolução continua".
por France Presse