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Aleppo: fim de cessar-fogo intensifica temores sobre integridade de civis

Moradores da segunda maior cidade da Síria relatam "bombardeio horrível"; Rússia e Turquia concordam em salvar pacto com rebeldes

Rodrigo Craveiro
postado em 15/12/2016 06:00
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Fatemah, mãe de Bana Alabed, de 7 anos, fez um desabafo pelas redes sociais, na manhã dessa quarta-feira (14/12), pouco após explosões voltarem a sacudir o leste de Aleppo, decretando o fracasso de mais um cessar-fogo. ;Querido mundo, há um intenso bombardeio neste exato momento. Por que você está silencioso? Por quê? Por quê? Por quê? O medo está matando a mim e aos meus filhos;, escreveu. Perto dali, o jornalista Rami Zien, 25, buscava serenidade em meio ao caos. ;Tem sido um dia muito louco. Há muitas mortes, além de munições e estilhaços em cada beco da cidade;, contou ao Correio. Segundo ele, os bombardeios tiveram início por volta das 9h (5h em Brasília), quatro horas após o prazo determinado para o início da retirada dos rebeldes com suas armas leves. ;Eu podia jurar que estivesse chovendo aqui em Aleppo. Mas eram projéteis de artilharia, morteiros e foguetes caindo do céu. Foi um bombardeio horrível;, disse Zien.
Patrulhas pró-governo sírias circulam pela cidade em ruínas
[SAIBAMAIS]No campo diplomático, os presidentes Vladimir Putin (Rússia) e Recep Tayyip Erdogan (Turquia) conversaram por telefone e reforçaram que o pacto alcançado na terça-feira deveria ser implementado. Ambos teriam concordado com a interrupção das violações do acordo, que indicaria o fim da resistência da oposição e a vitória do regime de Bashar Al-Assad. Em entrevista à rede de tevê russa RT, o ditador sírio declarou que a queda de Aleppo significa a ;derrota dos terroristas; e assegurou que o fim da guerra depende da vontade do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, a quem considera um ;aliado natural;.

À zero hora desta quinta-feira (20h de quarta em Brasília), rebeldes anunciaram que novo cessar-fogo entrou em vigor. ;Não espero muito da nova trégua, pois não confio no regime e no governo russo;, desabafou o fotógrafo Basem Ayoubi, 24 anos. Ele afirmou que caças ainda sobrevoavam Aleppo. Porta-voz da facção rebelde Ahrar Al-Sham, Ahmed Karali usou o perfil no Twitter para confirmar que a suspensão dos combates começaria ontem à noite. ;Os feridos e os civis começam a ser retirados amanhã (hoje).; Por meio de grupo no WhatsApp frequentado por jornalistas e por moradores de Aleppo, surgiram denúncias de que os ataques prosseguiam, com menos intensidade. A informação sobre o acordo foi desmentida por uma fonte próxima ao regime de Damasco.

Em meio ao conflito, o desespero supera o absurdo. Uma fonte síria confirmou à reportagem que alguns habitantes de Aleppo pedem a líderes religiosos autorização para assassinarem as filhas e esposas, antes que elas sejam estupradas pelas forças de Al-Assad. ;Ante o medo crescente e a agitação da mídia em relação a uma possível invasão de partes remanescentes de Aleppo, eu recebi poucas dúvidas, que indicam o horror e o despero dos civis. É um hábito das tropas sírias se vingarem dos civis, por considerá-los simpatizantes dos ;terroristas;. Creio que a questão foi retórica e teve por objetivo fazer com que o mundo desperte. A pergunta mais séria que recebi de várias sírias de Alepo foi: ;Uma mulher tem permissão para cometer suicídio, com medo de ser estuprada?;;, revelou ao Correio o estudioso islâmico e líder religioso sírio Muhammad Al-Yaqoubi. ;Nossa resposta a ambas as questões foi ;não, é proibido se suicidar ou matar por medo de estupro, pobreza, ou para proteger a honra da família.;;

Genocídio


Morador do leste de Aleppo, Monther Etaky, 28, afirmou ao Correio que iranianos e russos sitiavam a cidade. ;Os iranianos cancelaram o cessar-fogo firmado na terça-feira, e o regime de Damasco tenta ampliar o território. Precisamos que o mundo detenha o genocídio e leve o regime de Al-Assad ao banco dos réus.;
Por e-mail, Kenneth Roth, diretor executivo da Human Rights Watch, exortou a comunidade internacional a intensificar a pressão sobre Putin. ;Uma sessão de emergência da Assembleia Geral da ONU deveria pressionar pelo fim dos ataques a civis, pelo livre acesso à ajuda humanitária e pelo começo de um esforço de investigação para coletar evidências a serem mostradas na Corte.;
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