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Sob frio intenso, milhares de sírios aguardam para deixar Aleppo

De acordo com o representante da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, restam 40.000 civis na reduzida zona que ainda é controlada pelos insurgentes em Aleppo

postado em 17/12/2016 11:20
Aleppo, Síria - Milhares de pessoas aguardavam neste sábado, com fome e sob frio intenso, o reinício das operações de retirada no último reduto rebelde de Aleppo, poucas horas depois da denúncia do presidente americano Barack Obama sobre o "horror" do que acontece na segunda maior cidade da Síria. Uma fonte rebelde afirmou à AFP que um acordo para a retomada das operações foi alcançado, mas a notícia não foi confirmada pelo governo sírio, que suspendeu na sexta-feira o processo após a saída de 8.500 pessoas.

De acordo com o representante da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, restam 40.000 civis na reduzida zona que ainda é controlada pelos insurgentes em Aleppo, assim como entre 1.500 e 5.000 combatentes com suas famílias. A operação de retirada, iniciada na quinta-feira, tinha previsão para durar vários dias. Uma vez concluída, o regime poderia reivindicar o controle total da cidade, no que seria sua maior vitória desde o início do conflito em 2011.

[SAIBAMAIS]No bairro de Al-Amiriyah, parcialmente ainda sob controle dos rebeldes e onde começa o dispositivo de saída, milhares de pessoas, incluindo crianças, passaram a noite - com temperatura de seis graus negativos - em meio a ruínas dos edifícios. Sem água nem comida, os habitantes da cidade sobrevivem comendo tâmaras.

O exército sírio suspendeu na sexta-feira o dispositivo, ao constatar que os insurgentes "não respeitavam as condições do acordo". Uma fonte militar afirmou que "os rebeldes abriram fogo, tentaram levar armas não incluídas no acordo e partir com reféns".

O diretor da ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman, afirmou que a suspensão também foi motivada pelo bloqueio por parte dos rebeldes da retirada de feridos das localidades xiitas pró-regime de Fua e Kefraya, na província vizinha de Idlib (noroeste), cercadas pelos insurgentes. "As retiradas podem ser retomadas neste sábado em Aleppo, sincronizadas com a saída de Fua e de Kefraya de quase 4.000 pessoas, feridos e suas famílias, assim como civis e órfãos", disse Abdel Rahman.

Os rebeldes desejam vincular o destino das duas localidades a Zabadani e Madaya, duas cidades cercadas pelo regime na província de Damasco, de acordo com o OSDH.

Um líder rebelde do grupo islamista Ahrar al-Sham, Al Faruk Abu Bakr, confirmou à AFP um acordo. "Hoje começamos com uma retomada das operações. Teremos saídas de Fua e de Kefraya, assim como em Madaya e Zabadani. Todos os habitantes de Aleppo e seus combatentes sairão", disse.

Obama denuncia o ;horror;

Depois de anos de bombardeio e de um cerco brutal de mais de quatro meses, o exército sírio iniciou em meados de novembro uma grande ofensiva que permitiu recuperar o controle de mais 90% dos bairros de Aleppo, dominados pelos rebeldes desde 2012. Desde quinta-feira, ao menos 500 feridos conseguiram sair de Aleppo, de acordo com Ahmad al-Dbis, coordenador de uma unidade de médicos e voluntários.

Mas na sexta-feira um grupo de milicianos xiitas pró-governo forçou o retorno com mais de 800 pessoas retiradas. De acordo com os rebeldes, o grupo abriu fogo contra o comboio. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que supervisiona as operações, informou que analisa as informações sobre tiros.

Em Washington, o presidente americano, Barack Obama, afirmou na sexta-feira que "o mundo está unido no horror ao ataque brutal do regime sírio e dos regimes russo e iraniano na cidade de Aleppo".

"Este [derramamento de] sangue e estas atrocidades estão em suas mãos", prosseguiu, ao recordar que o presidente Bashar al "Assad não pode obter legitimidade a golpe de massacres".

Na sexta-feira, o Irã convocou o encarregado de negócios da embaixada do Reino Unido, na ausência de embaixador, para protestar pelo que considera declarações "irrefletidas" de políticos britânicos sobre o papel de Teerã na Síria.
Por France Presse

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