postado em 18/12/2016 16:58
Um comboio de ônibus esperava há horas a autorização do governo sírio para continuar retirando, neste domingo (18/12) à noite, insurgentes e civis, que aguardavam famintos e com frio no último reduto rebelde da cidade síria de Aleppo.
Milhares de pessoas continuam bloqueadas na cidade desde que a evacuação foi interrompida, na sexta-feira, por divergências sobre o número exato de pessoas que deveriam sair de Fua e Kefraya, duas localidades xiitas controladas pelo governo e cercadas pelos rebeldes na província vizinha de Idleb, no noroeste da Síria.
Durante todo o dia, milhares de pessoas aguardavam concentradas no bairro de Al-Amiriyah, ponto de partida dos primeiros comboios que, na quinta-feira, saíram da cidade antes de que a evacuação fosse suspensa, no dia seguinte.
Uma fonte militar confirmou neste domingo à AFP a entrada em vigor de um novo acordo entre os beligerantes, que conta com a aprovação da Turquia, que apoia os rebeldes, e da Rússia e Irã, aliados do governo. Segundo a emissora estatal, 100 ônibus realizarão a evacuação de Aleppo.
Saída em duas etapas
Uma fonte rebelde confirmou um novo acordo para a saída de civis de Aleppo, Fua e Kefraya em duas etapas.
"Em uma primeira etapa, metade das pessoas cercadas em Aleppo devem sair, paralelamente à retirada de 1.250 pessoas de Fua", explicou.
Em seguida, "outras 1.250 pessoas de Kefraya sairão ao mesmo tempo que os demais habitantes de Aleppo", disse.
E, por último, outros 1.500 indivíduos abandonarão Fua e Kefraya, enquanto o mesmo número de pessoas deve sair de Zabadani e Madaya, duas cidades rebeldes cercadas pelo regime na província de Damasco.
Neste domingo, vinte ônibus que iam entrar nestas localidades foram atacados e incendiados por homens armados. Entretanto, uma fonte militar indicou à AFP que o incidente não colocará o acordo em risco.
Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), os ônibus abandonarão os bairros rebeldes de Aleppo somente quando os habitantes de Fua e Kfreaya saírem de suas respectivas localidades.
Em Aleppo, milhares de civis passaram a noite entre os destroços dos edifícios, à espera do transporte. Sem água ou comida, esgotados, sobrevivem comendo tâmaras.
Apenas três médicos
No último hospital do setor rebelde as condições são péssimas. Doentes e feridos estavam no chão, não havia água ou comida e o edifício contava com um aquecimento mínimo, apesar da temperatura de seis graus abaixo de zero durante a noite.
O fisioterapeuta Mahmud Zaazaa disse que restavam apenas "três médicos, um farmacêutico e três enfermeiros" na zona.
Os 15 membros do Conselho de Segurança da ONU se reuniram às 11H00 de Nova York (14H00 de Brasília) para votar um texto apresentado pela França, que prevê o envio de observadores a Aleppo.
A resolução solicita ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que envie rapidamente para Aleppo a equipe humanitária das Nações Unidos presente na Síria, "para uma vigilância apropriada e uma observação direta" da "evacuação das partes cercadas" da cidade.
Mas a Rússia, aliada do governo sírio, anunciou que vetará a resolução, pois, segundo fontes diplomáticas, já apresentou o seu próprio texto.
Quase 8.500 pessoas foram retiradas da cidade antes da suspensão, na sexta-feira, segundo o OSDH.
A ONU calcula que restem 40 mil civis e entre 1.500 e 5.000 combatentes insurgentes com suas famílias no reduto rebelde, segundo o enviado para a Síria, Staffan de Mistura.
Após anos de bombardeios e um cerco de mais de quatro meses, as forças governamentais lançaram uma ofensiva em 15 de novembro que lhes permitiu reconquistar mais de 90% dos bairros controlados pelos rebeldes no leste de Aleppo desde 2012.
Desde o início, em 2011, a guerra na Síria deixou mais de 310.000 mortos e provocou o deslocamento de metade da população.
Por France Presse