Mundo

Venezuela sofre com falta de dinheiro após desastre com nota de 100

Maduro recuou após protestos e saques no final de semana, que deixaram ao menos três mortos

postado em 19/12/2016 19:28

Caracas, Venezuela - Os problemas com a falta de dinheiro em circulação na Venezuela permaneciam nesta segunda-feira, às vésperas do Natal, após a desastrada decisão do governo de retirar as notas de 100 bolívares, de maior valor, antes do lançamento de uma nova série de notas e moedas.


As notas de 100 bolívares voltaram às ruas, após o presidente Nicolás Maduro recuar no sábado e prorrogar sua validade até o dia 2 de janeiro. A princípio, as cédulas de 100 sairiam de circulação na quinta-feira passada, para combater as "máfias" de contrabandistas que agem nas fronteiras com Brasil e Colômbia.

Maduro recuou após protestos e saques no final de semana, que deixaram ao menos três mortos, devido à retirada da nota de 100 de circulação, que equivale a 0,15 dólares no câmbio oficial.

"Vou receber as ;marrons; (cor da nota de 100) até 31 de dezembro", disse em Petare (leste) o vendedor de mandioca Eduardo Rengifo.

Leia mais notícias em Mundo

Mas nas ruas ainda falta dinheiro (com valor) circulando e enormes filas se formaram nesta segunda-feira diante das agências bancárias.

Beatriz Cortés, de 65 anos, percorreu três agências bancárias e conseguiu "apenas 5 mil bolívares em notas de dois". "Já estou sem comida em casa".

Alguns bancos não entregavam mais de 10 mil bolívares, o que na Venezuela - onde a inflação deve superar os 470% em 2016, não é muita coisa.

Violência e incerteza

Maduro culpa a oposição pelos atos de violência e os Estados Unidos pelo atraso nos voos que devem trazer à Venezuela as novas notas e moedas. "É um empurrão de (Barack) Obama", disse em referência ao presidente americano. "Foi um plano terrorista" da oposição, declarou o número dois do chavismo, Diosdado Cabello.

Ao menos três mortos e mais de 300 detidos deixaram os protestos do final de semana, em várias cidades do país, como Guasdualito, no estado de Apure, onde foram queimadas três agências bancárias, e em Bolívar, sob o toque de recolher desde sábado. No total, 3 mil soldados foram mobilizados para patrulhar as ruas em Bolívar, onde 450 estabelecimentos comerciais sofreram dados. "A situação agora é de absoluta normalidade", garantiu nesta segunda-feira o ministro do Interior, general Néstor Reverol.

Já a oposição afirma que cinco pessoas morreram nos distúrbios e o Parlamento - dominado pela oposição - aprovou o início de uma investigação sobre a "responsabilidade" de Maduro e seu gabinete nos acontecimentos.

Nesta segunda-feira, o Legislativo votou a indenização dos comerciantes afetados pelos distúrbios e a abertura de um "canal humanitário" para levar comida e medicamentos aos Estados afetados. "O custo desta medida torpe e improvisada está sendo pago pelos venezuelanos", disse o porta-voz da Mesa da Unidade Democrática (MUD), Jesús Torrealba, sobre a retirada das notas de 100 bolívares.

O primeiro carregamento com a nova série de notas - a mais alta de 20 mil bolívares - chegou no domingo à Venezuela com cédulas de 500. Milhares de pessoas formaram longas filas na sexta-feira e no sábado diante da sede do Banco Central para entregar suas notas de 100, como determinou o governo, que inicialmente deu um prazo de cinco dias. Mas diante da falta da nova série de notas, a população ficou com seu dinheiro retido nos bancos, o que somado à inflação galopante e à falta de alimentos e medicamentos provocou a onda de protestos e saques.

Em sua operação para combater as máfias de contrabandistas, além de retirar as notas de 100 bolívares de circulação, Maduro fechou as fronteiras com Brasil e Colômbia para impedir o retorno destas cédulas ao país. A medida permanecerá em vigor até o dia 2 de janeiro.

Por France Presse

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação