[FOTO1]Alguns buscavam alimentos e medicamentos. Outros, queriam visitar familiares para as festas de Natal e Ano Novo. Milhares de venezuelanos cruzaram nesta terça-feira (20/12) as passagens fronteiriças para pedestres com a Colômbia, reabertas após oito dias por causa de um colapso monetário.
"Graças a Deus a fronteira foi reaberta. Vinha muita gente fazer suas compras do outro lado, porque não conseguimos comida, fraldas para nossas crianças, medicamentos", disse Christian Sánchez, locutor de 29 anos, enquanto atravessava a ponte internacional Simón Bolívar, que conecta as cidades de San Antonio (Venezuela) e Cúcuta (Colômbia).
Em uma conversa por telefone, na segunda-feira à noite, os presidentes venezuelano, Nicolás Maduro, e colombiano, Juan Manuel Santos, acordaram "abrir a fronteira de maneira progressiva, com rígida vigilância e segurança", informou o ministro venezuela de Comunicação e Informação, Ernesto Villegas.
Assim, os cruzamentos limítrofes se restabeleceram desde as 06h locais desta terça-feira (08h de Brasília), sob vigilância dos militares. O transporte de carga, entretanto, permanece interrompido.
Maduro ordenou fechar as fronteiras com a Colômbia e com o Brasil no dia 12 de dezembro, alegando que "máfias" estariam acumulando o papel-moeda venezuelano no exterior para atacar a eocnomia do país, golpeada por uma inflação de 475%, segundo o FMI - a mais alta do mundo - e uma aguda escassez de alimentos de alimentos básicos e medicamentos.
A medida coincidiu com momentos de grande incerteza por violentos protestos e saques em várias cidades, que deixaram ao menos três mortos e aproximadamente 300 detidos, sobretudo no estado Bolívar (sul), onde cercda de 600 estabelecimentos comerciais sofreram danos.
Os distúrbios eclodiram na sexta-feira e no sábado após a decisão do governo de recolher das ruas a nota de 100 bolívares (0,15 dólar no câmbio oficial mais alto), o de maior valor e circulação, até a entrada gradual de novas unidades monetárias.
Maduro atribuiu os atrasos na entrega dessas unidades monetárias a um "complô" comandado pelos Estados Unidos. O venezuelano classificou de "bem sucedida" a operação contra as "máfias" e prorrogou a vigência da nota de 100 e o fechamento das fronteiras com a Colômbia e o Brasil, até o dia 2 de janeiro.
"Não se sabe o que fazer"
Longas filas de pessoas - muitas após dormir na rua - se formaram nos dias de fechamento da alfândega de San Antonio. "Queremos passar", gritavam na esperança de receber uma autorização especial para passar por razões médicas e familiares, mas ela era dada a conta-gotas.
Ali, Carrasco e Carmem de Carrasco, um casal de sexagenários, atravessaram nesta terça.
"Vamos passar o Natal com nossos filhos. Não vamos comprar nada e estamos cansados", queixou-se Carmen, aborrecida por ter que "fazer e desfazer" as malas com os recorrentes fechamentos das passagens limítrofes.
A fronteira de 2,2 mil quilômetros entre a Venezuela e Colômbia esteve fechada entre agosto de 2015 e agosto de 2016 por ordem de Maduro, após um ataque armado de supostos paramilitares colombianos contra uma patrulha militar venezuelana.
Segundo alertam sindicatos, 75% do comércio do lado venezuelano da área deve fechar. Tradicionalmente, San Antonio e Cúcuta tiveram um intenso intercâmbio comercial.
"Normalização da fronteira"
Para Marta Cárdenas, colombiana de 51 anos que vive na Venezuela, a reabertura das passagens de pedestres representa um "respiro" aos problemas diários, agravados nos últimas dias pela falta de efetivo entre longas filas a agências de bancos públicos e privados.
Com o retorno temporário das notas de 100, a situação se normalizou desde a tarde de segunda-feira.
O mesmo acontece na fronteira com a Colômbia, embora os governos não tenham informado como será feita a abertura total.
Villegas ressaltou que Maduro e Santos "instruíram seus ministros da Defesa (Vladimir Padrino e Luiz Carlos Villegas) a coordenar ações imediatas para uma normalização da fronteira", uma vez que foram pactuados contatos entre seus banco centrais para enfrentar o que a Venezuela denomina como "ataques" à sua moeda.
Por France Presse