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Conheça Idlib, 'uma prisão ao ar livre' para os rebeldes sírios

Um total de 25 mil pessoas dos bairros rebeldes de Aleppo, no norte, foram evacuadas da cidade

postado em 21/12/2016 13:48
"Prepararam para nós uma prisão em Idlib", afirma Mohamad. Evacuado de Aleppo, acaba de se instalar nesta província do noroeste da Síria, prestes a se converter no último reduto dos rebeldes que pegaram em armas contra o regime de Bashar al-Assad.

[SAIBAMAIS]Um total de 25 mil pessoas dos bairros rebeldes de Aleppo, no norte, foram evacuadas da cidade, que o regime de Bashar al-Assad está prestes a reconquistar em sua totalidade depois de ter lançado uma brutal ofensiva.

Depois dos deslocados de Daraya, Muadamiyeh al Sham e de outros redutos da insurreição na Síria, os civis e rebeldes evacuados de Aleppo não têm outra alternativa a não ser se deslocar a Idlib (noroeste), última província controlada totalmente pela insurgência e seus aliados extremistas.

"Não queríamos abandonar nossa terra, mas o regime e seus aliados utilizaram todo tipo de armas para que fôssemos embora", explica Abu Mohamad, de 30 anos, instalado em um acampamento de deslocados junto a 100 famílias de Aleppo.

"Prepararam para nós uma prisão em Idlib, para nos cercar e bombardear", lamenta este pai de quatro filhos.

Nos últimos meses, dezenas de milhares de pessoas se dirigiram a esta província, sobretudo depois de terem abandonado várias localidades rebeldes nos arredores de Damasco que o regime controla graças a acordos chamados de "reconciliação".

Segundo estes pactos, os insurgentes podem escolher entre se entregar ao exército ou ir a Idlib.

"No total, na zona de Idlib pode haver um milhão de habitantes sob controle rebelde", estima o geógrafo Fabrice Balanche, especialista na Síria.

Esta província acolhe mais de 700 mil deslocados internos, segundo o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA).

Preços disparam

"O regime quer reunir os revolucionários e os opositores para poder atacar com apenas um golpe", teme Naser Alush, de 49 anos, um rico proprietário da localidade de Binnish, que diz ter hospedado gratuitamente deslocados nos edifícios que possui.

O afluxo de centenas de milhares de pessoas tem consequências importantes em Idlib: os aluguéis disparam, assim como os preços dos alimentos básicos, como o chá, o açúcar ou o arroz.

Os combatentes podem contar com o apoio de sua facção, que lhes fornece alojamento, roupas, alimentos e "às vezes dinheiro", explica à AFP Abu Zeid, comprometido com um grupo rebelde e que chegou em agosto procedente da localidade de Daraya.

"Os preços aqui são muito mais caros" que lá, explica este jovem de 26 anos.

"A vida aqui é bastante difícil, com os preços que aumentam, e às vezes há penúria", reconhece, por sua vez, Abu Yazan al Ramah, um combatente de 30 anos que chegou em abril a partir de Zabadani, perto da fronteira libanesa.

;Como em Gaza;

"A densidade populacional aumenta, então a demanda também", justifica Galal al Ahmad, um vendedor de Idleb, que reconhece que os preços dos produtos de primeira necessidade subiram de forma considerável.

O vendedor afirma que sua mercadoria é importada da Turquia, ou também de zonas sob controle governamental. "E então temos que pagar muito mais caro", reconhece.

Nos últimos meses, o regime multiplicou as advertências de que Idlib, controlada desde março de 2015 por uma coalizão dominada pelos extremistas da Frente Fateh al Sham (que foi o braço sírio da Al-Qaeda), pode ser seu próximo alvo.

Em dezembro de 2015, uma fonte de segurança em Damasco afirmou que o exército sírio e as forças russas estavam realizando manobras militares para lançar uma ofensiva contra Idlib.

Por sua vez, o emissário da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, advertiu recentemente que Idlib pode ser "o próximo Aleppo (...) se não houver um acordo político ou cessar-fogo".

Galal al Ahmad teme o pior. "O que o regime faz é preparar uma prisão ao ar livre que possa fechar quando quiser", diz o vendedor. "Então estaremos como na Faixa de Gaza e começará a nos eliminar", conclui.


Por France Presse

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