Rodrigo Craveiro
postado em 22/12/2016 06:00
Mevlut Mert Alintas, 22 anos, o policial que disparou nove tiros e matou o embaixador russo em Ancara, Andrei Karlov, na segunda-feira, fez parte do segundo grupo de segurança do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. De acordo com o jornal Hurriyet, Alintas trabalhou em oito eventos que contaram com a presença do próprio chefe de Estado, desde julho até o atentado. Ex-funcionário da polícia antidistúrbios da capital da Turquia por dois anos e meio, o criminoso pediu licença médica entre 15 e 17 de julho passado ; o afastamento coincidiu com a tentativa de golpe militar. Alintas tinha se formado policial em 2014.
Ontem, Erdogan reforçou as acusações de que o clérigo islâmico Fethullah Gülen, líder do Movimento Hizmet, estaria envolvido na execução do enviado de Moscou. De acordo com o presidente, Alintas ;é um membro da organização terrorista FET;;. ;Não há necessidade de esconder isso;, disse Erdogan à imprensa, ao usar o acrônimo da rede de Gülen. ;Os elementos mostram isso;, afirmou Erdogan, referindo-se ;ao lugar onde teve sua formação; e ;suas relações;.
Na terça-feira, o chanceler da Turquia, Mevlüt Cavusoglu, afirmou ao secretário de Estado norte-americano, John Kerry, que ;a Turquia e a Rússia sabem quem está por trás do ataque (;) a FET;;. O Kremlin adotou a cautela e, por meio do porta-voz Dimitri Peskov, defendeu que ;não se pode tirar conclusões precipitadas; até a divulgação dos resultados dos trabalhos do grupo de investigação (russo-turco). Moscou enviou a Ancara 18 especialistas russos para apurar o crime.
Mustafa G;ktepe, presidente do Centro Cultural Brasil-Turquia (CCBT), uma organização adepta da filosofia de Gülen, declarou ao Correio que a acusação de Erdogan é ;irresponsável e difamatória;. ;Não é a primeira vez que isso ocorre. Desde o surgimento das denúncias de corrupção, em dezembro de 2013, ele acusa o Hizmet por tudo de ruim;, comentou. ;O grupo Frente Al-Nusra reivindicou o assassinato, ao alegar tratar-se do primeiro ataque, em vingança por Aleppo;, lembrou G;ktepe.
Raiva
Presidente do Centro para Estudo do Islã e da Democracia (em Washington), Radwan Masmoudi explica à reportagem que existe muita raiva na Turquia e no mundo islâmico direcionada à Rússia, por seu papel na guerra civil síria. ;Tal ira alcançou um ponto de ebulição com a destruição de Aleppo e o assassinato de 500 mil civis inocentes na Síria. O ato de terrorismo contra o embaixador russo reflete as tensões crescentes na Turquia, na Síria e em todo o Oriente Médio.; O estudioso não acredita que o assassino de Karlov tinha ligações com o Estado Islâmico ou com outros grupos jihadistas. ;Parece um ato solitário de vingança. Eu temo que veremos mais incidentes contra a Rússia;, disse.