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Queda de Aleppo é vitória de regimes autoritários sobre países ocidentais

A vitória garante, ao menos a médio prazo, a permanência no poder do presidente sírio, Bashar al-Assad, e consagra uma nova aliança de vencedores - Rússia, Irã e Turquia

postado em 22/12/2016 19:47

A queda de Aleppo, anunciada nesta quinta-feira, marca a vitória da "força bruta" da aliança entre regimes autoritários sobre os países ocidentais, que optaram por ficar à margem, dando as costas às reivindicações democráticas de milhões de pessoas.


Combatentes "liquidados" e zonas "limpas" são as palavras empregadas pelo regime em Damasco e seu aliado russo, e resumem a estratégia utilizada para reconquistar a ex-capital econômica da Síria, que caiu levando milhares de vítimas, deslocamentos em massa e destruição sem precedentes. A queda de Aleppo não marca o fim da guerra na Síria, mas é um ponto de inflexão maior após quase seis anos de conflito.

A vitória garante, ao menos a médio prazo, a permanência no poder do presidente sírio, Bashar al-Assad, e consagra uma nova aliança de vencedores - Rússia, Irã e Turquia - diante dos países ocidentais e da potências regionais relegadas ao papel de simples espectadores. "A primeira lição é que a força e a abstenção têm um custo", assinala Bruno Tertrais, diretor da Fundação de Pesquisa Estratégica. "O envolvimento em massa de Rússia e Irã, que significou um giro maior nesta guerra no verão de 2015", foi a força; e "a não intervenção americana, em 2013", é a abstenção, afirma Tertrais.

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Em 2013, o presidente americano, Barack Obama, renunciou a bombardear a Síria após acusações de que o regime de Al-Assad havia utilizado armas químicas em um subúrbio de Damasco. "A partir de então, tudo estava dito", avaliou um especialista francês. No mesmo ano de 2013, os combatentes do movimento xiita libanês Hezbollah, apoiados por Teerã, entraram na guerra síria para apoiar Al-Assad.

O envolvimento militar do Irã e das milícias xiitas estrangeiras aumentaram progressivamente nos anos seguintes. Na ocasião, os países ocidentais (liderados pelos EUA), as monarquias do Golfo e a Turquia exigiam que Al-Assad entregasse o poder e apoiavam os rebeldes sírios.

Intervenção russa para salvar Assad

Dois anos mais tarde, diante de um regime sírio debilitado, Moscou agiu pesadamente para salvar seu aliado e esmagar a oposição, qualificada de "terrorista". "Com a intervenção russa, tudo terminou, soubemos que não poderíamos fazer mais nada", assinala o especialista francês. "O fracasso da revolução síria não era inevitável", opinou Tertrais, que destaca a "falta de disposição" dos países que apoiavam a rebelião.

O conflito sírio começou em março de 2011 com uma revolta pacífica e popular na qual se exigia "uma Síria sem tirania", mas este movimento desapareceu em poucos meses, diante da repressão feroz do regime, da militarização dos rebeldes e da intervenção de potências estrangeiras. Com a ascensão do grupo jihadista Estado Islâmico, as aspirações democráticas dos sírios passaram ao segundo plano para os países ocidentais. "A Síria se resume na confrontação entre duas barbáries", o regime de Al-Assad e o EI, disse à AFP o editor e presidente da associação Suria Huria Faruk Mardam-Bey. "O povo pensa que é melhor escolher a barbárie de gravata, que fala inglês e cuja mulher não usa véu".

Moscou, Teerã, Damasco e Ancara são os grandes vencedores deste conflito, assinalou um diplomata europeu. Mas os interesses destes países não são os mesmos, destacam vários especialistas. Entre Assad, que pretende reconquistar todo o país, Rússia, que se conformaria com uma "Síria útil", Turquia, preocupada especialmente em proteger sua fronteira norte, e Irã, que busca reforçar sua posição no cenário internacional, os interesses podem se chocar em breve.

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