postado em 06/01/2017 19:53
O México começou bem 2017. Em menos de uma semana, o país foi sacudido por violentos protestos contra o amento da gasolina e ameaças protecionistas do presidente eleito americano Donald Trump.
Quando os mexicanos ainda comemoravam o Ano Novo, entravam em vigor aumentos de até 20,1% sobre a gasolina e de 16,15% sobre o diesel, no início da liberação dos preços dos combustíveis, subsidiados por décadas, medida que desencadeou saques inéditos ao comércio.
Enquanto a fúria tomava conta das ruas, em meio a pressões do presidente eleito americano Donald Trump e uma queda na demanda de modelos compactos, a automotora Ford cancelou um projeto de 1,6 bilhão de dólares para construir uma nova Fábrica na nortenha San Luis Potosí.
Isso fez o peso despencar: a moeda fechou na semana com uma perda superior a 3,00% enquanto o Banco do México (Central) se viu obrigado na quinta-feira a intervir no mercado pela primeira vez desde fevereiro de 2016.
A moeda já havia sofrido uma desvalorização de 16,12% no ano passado, atingida sobretudo pela vitória de Trump, que prometeu impor fortes medidas protecionistas.
- Nuvens de tempestade -
Com esses fatores, somados a um forte déficit fiscal e um risco inflacionário, o México enfrenta uma "tempestade perfeita", resume o presidente da American Chamber México, José María Zas, à imprensa.
O analista Raúl Feliz, do Centro de Pesquisa e Docência Econômicas, concorda que a previsão no início de 2017 não é o melhor para México.
"A incerteza sobre a política comercial que o México enfrentará com Trump nubla o panorama e dificulta qualquer cálculo", comentou Feliz à AFP.
Essa incerteza às vésperas da era Trump "reduz a taxa de juros e complica investimentos a médio e longo prazo", ressaltou Feliz, apontando que no primeiro semestre a economia mexicana pode entrar em recessão.
"Caso se chegue a bom acordo com Trump, a economia se recuperaria no segundo semestre, caso contrário estaríamos em uma situação muito mais delicada no final do ano, e 2018 seria pior pela eleição presidencial".
Zas prefere não adiantar cenários catastróficos e pede que se espere o "fim de jogo".
- Efeito protestos -
Entre a incerteza do que acontecerá na Casa Branca a partir de 20 de janeiro, empresários e pequenos comerciantes alertam para terríveis consequências econômicas pelos violentos protestos pelo "gasolinaço" (;tarifaço; da gasolina) e pela onda inflacionária que o aumento poderá disparar.
Até a quinta-feira, 800 pequenos e médios comércios e mais de 250 lojas de departamento tinham sido saqueadas e em Veracruz (este), onde foram registrados saques violentos, a cúpula empresarial classificou a situação de "apocalipse".
Analistas se perguntam se esses protestos são espontâneas ou orquestrados por opositores, grupos sociais ou mesmo pelo crime organizado.
"Não sabemos ainda o que é isso", disse à AFP Luis Carlos Ugalde, analista e ex-presidente do Instituto Nacional Eleitoral.
"O que fica claro é que há muitos grupos em muitas regiões do país que estão dispostos a utilizar qualquer evento, qualquer situação, para dispersar problemas de violência", acrescentou.
O presidente da American Chamber reconhece que essa inesperada violência preocupa, mas descarta que afaste os investidores.
"Os investidores se preocupam mais com o que Trump está fazendo do que com os protestos, mas, se eles saírem de controle e virar um caos generalizado, aí sim será outro fator negativo", adverte Feliz.
Por France Presse