postado em 08/01/2017 11:07
Portugal se prepara, neste domingo (8/1), para prestar suas últimas homenagens ao ex-presidente socialista Mario Soares, que morreu no sábado aos 92 anos, figura histórica que abriu o caminho para a libertação do país do jugo da ditadura de Salazar em 1974.
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Sua família gostaria que as cerimônias fúnebres, previstas para segunda e terça-feira em Lisboa, fossem um reflexo da personalidade do ex-chefe de Estado jovial que cultivada a "proximidade com as pessoas", indicou seu ex-assessor José Manuel dos Santos.
"Obrigado, Soares", "Toda uma vida dedicada à luta pela liberdade" ou "Sinto muito, mas me retiro", eram as manchetes dos jornais, enquanto os canais de televisão exibiam imagens em loop do "pai da nação".
Seu corpo vai descansar em uma capela no Mosteiro dos Jerônimos, após percorrer um caminho de duas horas de cortejo fúnebre pelas ruas de Lisboa.
Foi entre as paredes de seu claustro, que Mario Soares assinou em 12 de junho de 1985 o Tratado de Portugal de Adesão à Comunidade Econômica Europeia, precursora da União Europeia.
Terça-feira à tarde, o ex-político será enterrado no cemitério dos Prazeres, no oeste da capital, onde já descansa sua esposa, a atriz e filantropa Maria Barroso, que morreu em julho de 2015.
O governo socialista declarou três dias de luto nacional e pediu que "todos os cidadãos" prestem homenagem a esta "grande figura da história contemporânea portuguesa, o fundador do nosso sistema democrático e símbolo da liberdade".
No cenário político português, por mais de quarenta anos, Mario Soares foi o fundador do Partido Socialista, duas vezes chefe de governo, presidente da República de 1986 a 1996, e deputado europeu.
Longevidade política
Questionado sobre o segredo de sua longevidade política, ele gostava de dizer que "sempre senti um grande desejo de viver e uma enorme curiosidade". "Eu tenho uma certa energia vital. Dadas as inevitáveis moléstias %u200B%u200Bda vida, eu viro com facilidade a página", assegurou.
Filho de um padre, Mario Soares se definia como agnóstico, mas permanecerá na memória dos portugueses como um homem de convicções e um incansável defensor dos valores democráticos.
Para seu biógrafo Joaquim Vieira, a França, onde viveu no exílio no início dos anos 70, teve um papel importante em sua formação política: "Soares começou sua carreira como um comunista antes de romper com o PC no início dos anos 50. Em seguida, as suas ideias socialistas vieram principalmente da França".
"Fora de Portugal, ele era visto como o líder político que salvou Portugal do comunismo após a Revolução dos Cravos", disse à AFP.
Uma página que é virada
Para os portugueses, uma página importante da história é virada.
"Ele contribuiu enormemente para a entrada de Portugal na Europa. Infelizmente, se vai quando tudo o que ele sonhou está desaparecendo pouco a pouco. Isso vai com ele" , lamentou Maria Fernanda, uma funcionária de 62 anos.
"Foi uma personalidade muito importante de Portugal. Ele lutou pela democracia, a integração europeia, a descolonização e contra o fascismo", disse Fátima Sá, de 66 anos, uma aposentada do serviço público.
"Mario Soares será lembrado como um ativista e líder político que desempenhou um papel central no retorno de Portugal para a democracia", reagiu o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau.
"Ele encarnou com François Mitterrand e Helmut Kohl o grande impulso europeu", afirmou o presidente francês, François Hollande.
Para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, "Mario Soares foi um dos grandes homens públicos do século XX, não só em Portugal, mas na Europa e no mundo inteiro."