postado em 09/01/2017 19:50
O presidente sírio, Bashar al-Assad, descartou qualquer cessar-fogo na região de Wadi Barada, que alimenta Damasco com água potável, e voltou a negar que a sua saída seja discutida durante as negociações previstas para o fim de janeiro no Cazaquistão.
Depois de recuperar a cidade de Aleppo, as tropas do regime e o Hezbollah xiita libanês conduzem uma ofensiva para expulsar os rebeldes da cidade de Wadi Barada, a 15 km de Damasco, e assim tomar as principais fontes de abastecimento de água para a capital.
Os combates ameaçam o cessar-fogo patrocinado pela Rússia e Turquia, que entrou em vigor em 30 de dezembro e que deve ser um prelúdio para as negociações de paz previstas para o final de janeiro, em Astana.
"O papel do exército sírio é libertar essa área para evitar que os terroristas usem (a arma) da água para sufocar a capital", disse em uma entrevista à imprensa francesa.
De acordo com Assad, o cessar-fogo "é violado porque os terroristas ocupam a principal fonte de água de Damasco, privando mais de cinco milhões de civis de água potável há três semanas".
Além disso, "o cessar-fogo não inclui o grupo Estado Islâmico (EI) ou a Frente Al-Nusra, e a região (de Wadi Barada) onde a luta está ocorrendo é ocupada pela Al-Nusra". "Portanto, não é parte do acordo de cessar-fogo", disse ele.
A Frente Al-Nusra foi rebatizada de Fatah al-Sham após se distanciar da Al-Qaeda.
Nesta segunda-feira, intensos combates em várias frentes em Wadi Barada opunham as forças do regime e combatentes do Hezbollah aos rebeldes, com uma minoria de combatentes da Fatah al-Sham, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
O regime realizou no domingo uma dezena de ataques e bombardeios de artilharia após o fracasso das negociações para o reparo da estação de abastecimento de água de Ain al-Fijé, segundo a mesma fonte.
O governo sírio acusa os rebeldes de "contaminar com diesel" as reservas de água, o que os insurgentes negam, garantindo que a infraestrutura foi destruída pelos bombardeios do regime.
Referendo
Com sua vitória em Aleppo, conquistada com a ajuda dos russos e iranianos em 22 de dezembro, Assad excluiu a possibilidade de se discutir em Astana a sua saída do poder, reivindicada pela oposição desde o início da revolta, em 2011.
"Estamos prontos para negociar tudo", disse ele. Mas "o meu status depende da Constituição e esta última é muito clara sobre a maneira como devemos eleger ou se livrar de um presidente", disse.
"Então, se eles (a oposição) querem negociar a partir desse ponto, devem discutir a Constituição, e isso não cabe nem ao presidente, nem ao governo, nem à oposição, mas ao povo sírio e, portanto, deve haver um referendo", ressaltou.
As negociações de Astana devem tentar acabar com a guerra civil que deixou mais de 310.000 mortos e milhões de refugiados desde 2011.
Para a negociadora da oposição Basma Kodmani, "os russos estão, neste momento, sérios e determinados. Eles querem sair do conflito, eles optaram pela opção militar, e foram tão longe que é de seu interesse sair".
"Eles não podem obter uma vitória total, que duraria anos (...) Então, agora eles querem uma solução política e que esta reunião em Astana seja credível", disse ela à AFP.
Neste conflito extremamente complexo, que envolve uma multiplicidade de atores internacionais e regionais, grupos rebeldes e jihadistas, a coalizão liderada pelos Estados Unidos matou no domingo 25 extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) em uma rara operação em terra no leste da Síria.
Nesta segunda, o Pentágono confirmou a operação realizada pela unidade das forças especiais americanas, encarregada de perseguir os líderes extremistas (a Expeditionary Targetting Force, ETF).
O balanço de 25 mortos extremistas mencionado pelo OSDH é, no entanto, "muito exagerado", informou Jeff Davis, porta-voz do Pentágono, acrescentando que o balanço é "inferior".
Por France Presse