postado em 10/01/2017 12:53
O Irã e as grandes potências começaram a se reunir nesta terça-feira em Viena para analisar os progressos realizados como parte do acordo nuclear concluído em 2015, num contexto de incertezas com a chegada de Donald Trump à Casa Branca, que criticou o texto. A reunião, realizada em nível de diretores políticos, tem a mediação da Comissão Europeia.
"Tudo aconteceu conforme previsto", assegurou o representante russo Vladimir Voronkov à imprensa após o fim da reunião, ressaltando que a implementação do acordo estava de acordo com os compromissos. "A confiança está crescendo. Isso também é importante", observou ele.
O encontro, o quarto desde a entrada em vigor, em janeiro de 2016, deste acordo destinado a garantir o caráter estritamente pacífico do programa nuclear do Irã, foi solicitado por Teerã em dezembro, após o restabelecimento de sanções americanas.
Ele ocorre em um contexto de expectativa, uma vez que Trump, que toma posse em 20 de janeiro, ameaçou durante sua campanha eleitoral "rasgar" este texto considerado como um grande sucesso diplomático pelo governo Obama.
Do lado iraniano, o acordo também perdeu um apoio simbólico de peso na pessoa do ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani, que morreu no domingo aos 82 anos.
Concluído durante as negociações de julho de 2015 entre o Irã e o Grupo 5%2b1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha), na capital austríaca, o acordo prevê a suspensão das sanções ao Irã em troca de um rigoroso controle de suas atividades nucleares.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), órgão da ONU encarregado de supervisionar a aplicação do acordo por Teerã, atestou até à data que a República Islâmica tem cumprido com suas obrigações.
Por sua vez, a comunidade internacional retirou a maior parte das sanções contra o Irã, permitindo um retorno do país ao mercado de gás e petróleo.
Acordo ;tenebroso;
Mas. no início de dezembro, o Congresso americano renovou por dez anos o Iran Sanctions Act (ISA). O presidente Barack Obama, muito envolvido na conclusão do acordo, autorizou a prorrogação, mas recusou-se a assinar a lei.
O Irã considera que esta extensão constitui uma "violação" do acordo nuclear e acusa os Estados Unidos de impedir uma normalização real das relações econômicas, especialmente financeiras, com o resto do mundo.
Os Estados Unidos suspenderam as sanções anti-iranianas relacionadas à questão nuclear, mas impõe outras ligadas aos direitos humanos, pelo suposto apoio de Teerã ao "terrorismo" no Oriente Médio e seu programa de mísseis balísticos.
As sanções americanas penalizam o setor bancário iraniano e as indústrias de energia e defesa. Portanto, o impacto econômico do acordo nuclear foi muito menos importante do que se esperava pelo Irã, onde essa frustração poderia prejudicar uma possível reeleição do presidente moderado Hassan Rohani em maio.
O representante russo na reunião em Viena, Vladimir Voronkov, considerou que "questões de natureza bilateral não terão impacto sobre o plano global de ação comum", o nome oficial do acordo.
"No geral, eu não falaria de problemas de implementação do plano. Há aspectos normais de trabalho que precisam ser esclarecidos durante a implementação, em termos de tempo e quantidade", disse ele à agência RIA Novosti antes da reunião.
A AIEA observou que o Irã ultrapassou ligeiramente em duas ocasiões o limite estabelecido para o seu estoque de água pesada, fixado em 130 toneladas. Incidentes prontamente regularizados por Teerã através de exportações.
Apesar de Trump ter considerado no final de dezembro o acordo como algo "tenebroso", até agora não especificou a maneira como pretende agir em relação a este texto.
No entanto, nomeou como futuro chefe da CIA um ferrenho opositor do Irã, Mike Pompeo, que está empenhado em voltar atrás em um "acordo desastroso".
Obama, no entanto, duvida que Trump seja capaz de desmantelar "um acordo fantástico (...) que impede o Irã de obter uma arma nuclear".
As autoridades iranianas também estimaram que o novo presidente americano não poderia retroceder, especialmente porque foi "aprovado" pela ONU. A União Europeia também destacou o caráter "multilateral" do texto.
Voronkov também se mostrou sereno sobre as intenções de Trump. "A campanha eleitoral é uma coisa, mas o palco onde entra em função é outro", disse à Tass ,estimando que o novo presidente "terá a oportunidade de ver o documento de outra maneira".
Por France Presse