postado em 12/01/2017 08:24
A Rússia é um "perigo" e Cuba não presta contas por sua "conduta" sobre os direitos humanos, declarou nesta quarta-feira Rex Tillerson, nomeado do presidente eleito para chefiar o Departamento de Estado, que adotou a linha-dura em sua audiência de confirmação no Congresso.
No segundo dia de audiências no Senado para avaliar as credenciais do gabinete escolhido por Trump, Tillerson pareceu tentar desmistificar [SAIBAMAIS]sua história de laços próximos com o presidente russo, Vladimir Putin, e assegurar aos legisladores que manterá uma postura firme perante Moscou.
"Enquanto a Rússia busca respeito e relevância no cenário mundial, suas atividades recentes desrespeitaram os interesses americanos", disse Tillerson a senadores democratas e republicanos em uma abarrotada comissão de Assuntos Externos do Senado.
As declarações do ex-presidente da ExxonMobil coincidem com um aumento das tensões com a Rússia pela ingerência de Moscou nas eleições presidenciais nos Estados Unidos, e - desde a terça-feira - por revelações nos meios, segundo as quais o governo russo teria informações comprometedoras sobre Trump.
Trump destacou abertamente seu interesse em suspender as sanções impostas durante o governo em fim de mandato de Barack Obama e melhorar as relações com a Rússia e Putin, mas Tillerson usou um tom mais duro contra o Kremlin.
"A Rússia representa um risco, mas não é imprevisível na hora de defender seus próprios interesses", disse Tillerson, de 64 anos.
"Nossos aliados na Otan têm razão para se alarmar perante uma Rússia fortalecida", acrescentou.
Em uma crítica a Obama, acrescentou que o ressurgimento de Moscou aconteceu porque "voltamos atrás em compromissos com aliados e enviamos sinais mistos", antes de prometer que "a liderança americana não só deve ser renovada, mas deve se fazer valer".
"Precisamos de um diálogo aberto e franco com a Rússia sobre suas ambições", destacou.
Cuba não presta contas
Tillerson também criticou Cuba e advertiu que Washington não prestou contas a Havana pelo que considerou uma falta de compromisso com os direitos humanos na ilha.
"Nosso acordo recente com o governo de Cuba não foi acompanhado por nenhuma concessão importante em direitos humanos. Não o fizemos prestar contas por sua conduta", disse Tillerson na audiência.
O futuro secretário de Estado disse ainda que "gostaria de examinar o critério pelo qual Cuba foi retirada da lista de Nações que apoiam o terrorismo, ver se esta exclusão foi apropriada e se as circunstâncias que permitiram esta decisão ainda existem".
Tillerson manifestou sua total oposição à aproximação entre Washington e Havana, declarando que as altas figuras do governo cubano "receberam muito" enquanto a população "recebeu pouco".
"Isto não satisfaz os interesses dos cubanos e nem dos americanos".
Após quatro décadas de enfrentamentos, os ex-inimigos da Guerra Fria restabeleceram relações diplomáticas em 2015, e desde então Washington suspendeu uma série de restrições sobre viagens, comércio, remessas e turismo.
Mas críticos da aproximação bilateral destacam que o governo cubano do presidente Raúl Castro não acompanhou as mudanças com reformas políticas no sistema de partido único e mantém a repressão contra grupos dissidentes.
Este engenheiro, que trabalhou toda a vida na Exxon, onde passou mais de 40 anos, também criticou a China. Disse que Pequim não tem sido um parceiro confiável dos Estados Unidos para pressionar a Coreia do Norte por seu programa nuclear.
"A China não tem sido um parceiro confiável na hora de usar sua influência a fim de conter a Coreia do Norte", disse Tillerson.
"Em ocasiões, a China é amigável e em ocasiões é uma adversária", afirmou, acrescentando que também se deve reconhecer as "dimensões positivas" da relação bilateral entre duas nações "profundamente inter-relacionadas" em seu desenvolvimento econômico.
Posição divergente
Durante uma audiência de mais de nove horas na Comissão de Relações Exteriores, Tillerson se distanciou das posições de Trump em várias questões, especialmente sobre aquecimento global, proliferação nuclear e livre comércio.
"Acredito ser importante que os Estados Unidos sigam envolvidos. Enfrentar as ameaças da mudança climática exige uma resposta global", declarou Tillerson aos senadores.
"Nenhum país poderá solucionar este problema sozinho", assinalou Tillerson, que se disse favorável a permanência dos Estados Unidos no acordo da COP21, fechado em Paris em dezembro de 2015 e no qual o presidente Barack Obama desempenhou um papel-chave.
Ao citar o Acordo Transpacífico de Livre Comércio (TPP), negociado por 12 países e sobre o qual Trump já manifestou reservas, o futuro secretário de Estado declarou: "Eu não me oponho ao TPP".
Tillerson também avaliou ser "vital" para Washington prosseguir com sua política de "não proliferação nuclear".
A sessão, celebrada no Capitólio, em Washington, coincidiu com a primeira coletiva de imprensa de Trump no QG do presidente eleito, em Nova York, que foi a primeira aparição do bilionário de 70 anos desde que foi eleito presidente, em 8 de novembro.
Outros nomeados de Trump também foram ouvidos no Senado nesta quarta-feira, incluindo Elaine Chao, nomeada pelo presidente eleito republicano para a pasta dos Transportes e esposa do líder republicano do Senado Mitch McConnell.
Por France Presse