Agência France-Presse
postado em 13/01/2017 16:07
A uma semana de sua posse, em 20 de janeiro, o presidente eleito Donald Trump prepara sua chegada à Casa Branca em meio às polêmicas sobre os serviços secretos e sua relação com a Rússia.
Antes mesmo de assumir o cargo, Donald Trump cavou um fosso com seus futuros serviços de inteligência, aos quais acusou publicamente de incompetência e deslealdade, enquanto seus futuros ministros expressaram sua "confiança".
O futuro diretor da CIA, Mike Pompeo, apresentou-se na quinta-feira diante do Congresso em uma posição desconfortável. Nomeado por um presidente eleito que vaiou as agências de inteligência, deve dirigir a mais famosa delas.
No Twitter e em sua primeira coletiva de imprensa desde a sua eleição, Donald Trump acusou os serviços de inteligência de estar por trás do vazamento para a imprensa de um relatório cuja veracidade não foi comprovada citando alegadas ligações do bilionário com a Rússia e outras informações comprometedoras, incluindo um vídeo sexual.
Os chefes dos serviços de inteligência apresentaram nesta sexta a Donald Trump um resumo do relatório, de acordo com vários meios de comunicação.
O presidente eleito considerou "ultrajante que as agências de inteligência tenham permitido" a publicação "de informações errôneas e falsas".
Ele também atacou a imprensa, principalmente o site Buzzfeed, descrito como "monte de lixo", após ser o primeiro a publicar este relatório.
Apelo de Clapper
Suas críticas lhe renderam um telefonema do diretor de Inteligência James Clapper, "consternado" com o vazamento do documento não auditado.
Clapper assegurou-lhe que os seus serviços não estavam envolvidos na preparação nem na publicação deste documento.
Trump comentou no Twitter sobre o telefonema, chamando novamente o relatório de "falso e fictício".
Mas James Clapper, cujo escritório (ODNI) coordena as 17 agências de inteligência dos Estados Unidos, teve o cuidado de não comentar sobre o conteúdo do documento, sobre o qual seus serviços não fizeram "nenhum julgamento quanto à fiabilidade das informações".
Ele se limitou a expressar preocupação com a sua postagem na internet, algo "extremamente tóxico e prejudicial à segurança nacional".
Seu autor, Christopher Steele, um ex-agente secreto britânico que esteve baseado em Moscou durante vários anos para o MI6, ainda não pôde ser contactado.
Uma fonte próxima à inteligência britânica disse à AFP em Londres que "conhece" Steele e Chris Burrows, co-diretores de empresa de inteligência Orbis, garantindo que eles tinham "boa reputação e que é impossível que tenham fabricado o relatório".
"Mas eu não posso dizer o mesmo sobre suas fontes", acrescentou, dizendo que "o relatório não é credível, porque não contém quaisquer reservas".
Moral dos agentes afetada
Um especialista do Council on Foreign Relations, Max Boot, conhecido por suas posições anti-Trump, sugeriu no New York Times ao presidente eleito "limpar seu nome" criando uma comissão especial para investigar o caso.
Os ataques de Donald Trump "afetaram o moral" dos agentes, lamentou por sua vez o senador Mark Warner, vice-presidente da comissão de Inteligência no Senado.
Desde sua eleição, Donald Trump desmentiu várias vezes os serviços secretos. Depois de inicialmente rejeitar suas conclusões sobre a interferência da Rússia na eleição presidencial, reconheceu na quarta-feira pela primeira vez que Moscou estava por trás dos ciberataques ao Partido Democrata.
Ele já havia dado crédito a Julian Assange, fundador do WikiLeaks e um crítico ferrenho de Hillary Clinton, que negou que Moscou tenha fornecido as informações que ele publicou sobre o Partido Democrata.
;Confiança; do futuro chefe do Pentágono
O futuro presidente também expressou a sua desconfiança em relação aos serviços em dezembro, indicando que não iria receber os seus briefings diários como é a tradição. "Pegarei quando eu precisar", declarou ele.
Os futuros membros de sua administração, ouvidos pelo Congresso na quinta-feira, mostraram-se mais afáveis.
O próximo chefe do Pentágono, James Mattis, afirmou ter uma "confiança muito elevada" na inteligência dos Estados Unidos, assim como o futuro diretor da CIA, Mike Pompeo, a respeito dos seus agentes.
Pompeo atribuiu claramente os ciberataques durante a campanha eleitoral americana a "altos funcionários da Rússia": "Não vejo nada que precisa ser revisto nas conclusões do relatório" da CIA sobre esta questão, afirmou.
Mike Pompeo "nos deve agora a verdade", incluindo a Donald Trump, concluiu Adam Schiff membro da Comissão de Informação na Câmara dos Representantes.