Agência France-Presse
postado em 17/01/2017 14:40
Ao menos 50 pessoas morreram no bombardeio acidental de um avião da força aérea nigeriana contra um campo de deslocados no nordeste da Nigéria nesta terça-feira, informou a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF).
O incidente ocorreu às 09H00 local (06H00 Brasília) em Rann, no norte do estado de Borno, epicentro da revolta islâmica do grupo Boko Haram, quando trabalhadores humanitários distribuíam alimentos aos refugiados, que abandonaram seus lares devido à violência.
Até o momento não há um número oficial de vítimas, mas um alto funcionário nigeriano disse que há uma quantidade "enorme" de mortos. Mas segundo a MSF, suas equipes no local contaram 52 mortos e 120 feridos no bombardeio.
"Foi um ataque em grande escala contra pessoas vulneráveis que fugiam da violência extrema. É algo ofensivo e inaceitável", declarou o médico Jean-Clément Cabrol, diretor de operações da MSF.
A organização médica informou que suas equipes "tentam dar os primeiros socorros" aos feridos e pediu às autoridades que "coloquem em andamento todas as medidas possíveis" para facilitar as evacuações de emergência.
Entre as vítimas do ataque aéreo há "seis membros da Cruz Vermelha nigeriana mortos e 13 feridos", declarou à AFP um porta-voz do CICR, via SMS.
A MSF e o CICR se encarregam da distribuição de alimentos nos campos de deslocados de Rann, que abandonaram suas casas fugindo da violência do Boko Haram.
Erro lamentável
"Um avião militar bombardeou por engano o local", informou por telefone um morador da região, Abba Abiso. "Nas últimas semanas, o Boko Haram transferiu sua base do bosque de Sambisa para Kala e o avião, ao que parece, confundiu Rann com Kala".
Em entrevista coletiva em Maiduguri, capital de Borno, o general Lucky Irabor reconheceu o "incidente" e explicou ter recebido "informações sobre concentrações de terroristas do Boko Haram em alguma parte da região de Kala-Balge".
"Obtivemos as coordenadas, e ordenei à Força Aérea que interviesse para resolver o problema. Fez-se o bombardeio, mas, infelizmente, habitantes foram alcançados", acrescentou.
O presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, declarou sentir "uma profunda tristeza" ao ser informado do bombardeio, que qualificou de "lamentável erro operacional", e pediu à população que mantenha a calma.
O bombardeio coincide com as recentes vitórias reivindicadas pelo Exército contra o Boko Haram - ligado ao grupo jihadista Estado Islâmico -, cujos combatentes estão sendo expulsos dos territórios que haviam conquistado no estado de Borno.