postado em 18/01/2017 13:53
O bilionário Donald Trump será empossado na sexta-feira (20) como o novo presidente dos Estados Unidos sem ter delineado ainda um plano coerente para as relações de Washington com a América Latina, em uma situação que mergulha toda a região na incerteza.
Durante toda sua campanha eleitoral e em declarações posteriores à sua vitória, Trump apenas sugeriu que poderia reverter os avanços feitos até agora na reaproximação com Cuba e insistiu na construção de um muro na fronteira com o México para impedir a entrada de imigrantes.
Ele também criticou os acordos comerciais assinados pelos Estados Unidos e prometeu renegociá-los, uma ameaça que, a princípio, afeta diretamente o México, com o qual está unido - juntamente com o Canadá - no Tratado de Livre Comércio da América do Norte.
Assim como em outros aspectos de sua plataforma de governo, o novo presidente não esboçou uma estratégia geral ou uma doutrina que possa guiar as relações de Washington com o resto do continente, nem incentivou planos para alianças em que possa estar especialmente interessado.
Para o cientista político e assessor parlamentar Marc Hanson, a análise de possíveis cenários das relações entre Trump e a América Latina é fácil de resumir: "ninguém tem ideia do que podemos esperar", declarou à AFP.
Contradições
Segundo Hanson, é significativo que Rex Tillerson, indicado por Trump para comandar o Departamento de Estado, tenha passado um dia exaustivo respondendo a perguntas de uma comissão do Senado sem fazer qualquer menção à América Latina, além de comentários genéricos sobre Cuba.
Mas ainda com relação a Cuba, acrescentou Hanson, há contradições internas na equipe que cerca o presidente.
A equipe de transição ao novo governo no Departamento do Tesouro, afirmou, inclui "o maior lobby de Washington a favor de manter o embargo a Cuba", mas Tillerson é contrário à aplicação de sanções a países porque as considera um obstáculo para empresas americanas.
Trump "é tão confuso, tem um temperamento tão explosivo e tem uma capacidade de concentração tão curta que posso ver como a liderança dos Estados Unidos na região se dissipará a ponto de ser inexistente", disse Hanson à AFP.
Na opinião de Hanson, o "instinto" de Trump "o levará a ser abusivo: quando vir países que não podem se defender sozinhos ou líderes que enfrentam desafios, não hesitará em intimidá-los. Parece não saber exatamente em que direção gostaria que a região avance".
Enquanto isso, para o economista Mark Weisbrot, do Centro de Pesquisas de Economia e Política (CEPR), a região não deve esperar grandes mudanças em sua relação com Washington.
Uma engrenagem pesada
De acordo com Weisbrot, isto é assim não só porque Trump não parece ter um plano preparado para estas relações, mas porque as ferramentas que operam mudanças na política externa compõem uma engrenagem enorme e pesada que tem seus próprios interesses, além de estar ligada à segurança nacional.
"Eu não esperaria algo muito diferente de Trump. O ;estado de segurança nacional; é tão poderoso e tão grande que se um presidente quer uma mudança de política externa realmente tem que torná-lo uma prioridade", comentou o especialista à AFP.
Por essa razão, disse Weisbrot, "minha impressão é de que nada vai mudar muito. Em 16 anos de governos de George W. Bush e de Barack Obama, a relação mudou muito pouco ou quase nada para além da abertura a Cuba. E mesmo isso foi menos uma mudança política do que uma mudança de estratégia".
Mas se o futuro das relações entre Washington e América Latina constitui uma enorme incerteza, o impacto econômico pode ser mais facilmente medido.
Em sua revisão das expectativas para o desempenho econômico de 2017, o Fundo Monetário Internacional (FMI) revisou para baixo suas previsões para o México, precisamente por causa do "fator Trump".
Mesmo antes de assumir o poder, Trump iniciou uma ofensiva frontal contra as empresas automotivas americanas (ou filiais de empresas estrangeiras, como a japonesa Toyota) por fazer investimentos em montadoras no México, destinadas a abastecer o mercado americano.
Para Hanson e Weisbrot, reverter, em princípio, a marcha da reaproximação com Cuba ou forçar uma renegociação dos acordos comerciais estaria entre as atribuições do próximo presidente, mas resta ver se isto ocorrerá como parte de uma visão geral do diálogo entre os Estados Unidos e a região.
Por France Presse