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Obama e África, uma herança principalmente simbólica

"Grande parte de sua herança é ter mudado a percepção segundo a qual a África é um continente obscuro" explica especialista

postado em 19/01/2017 11:41
No mês passado, os ganeses lembraram as palavras de Obama sobre os
A eleição de Barack Obama nos Estados Unidos havia gerado uma esperança imensa na África, terra natal de seu pai queniano. Mas após oito anos no poder, sua herança africana é, acima de tudo, simbólica.

Era encarado como o filho prodígio da África, capaz de compreender melhor que seus antecessores de pele branca este complexo continente.

Para Nelson Mandela, a vitória histórica de Obama era a prova de que todos devem "se atrever a sonhar" e os africanos acolheram o novo presidente dos Estados Unidos como um herói.

Apenas seis meses depois de assumir, Obama visitou Gana com uma forte mensagem e assentou as bases de sua futura política baseada no comércio ao convidar os africanos a tomar seu destino nas mãos.

"O futuro da África cabe aos africanos", declarou em Acra, capital de Gana.

"A África não precisa de homens fortes, precisa de instituições fortes". Uma crítica em direção aos dirigentes que se agarram ao poder enquanto seus povos afundam na pobreza.

Estas declarações enlouqueceram a multidão, mas o entusiasmo terminou rápido: foi a primeira, mas também a última viagem africana do primeiro mandato de Obama.

Durante seu segundo mandato, voltou a deixar sua marca ao visitar Robben Island, a prisão onde Mandela esteve detido por mais de 20 anos durante o apartheid.

"Grande parte de sua herança é ter mudado a percepção segundo a qual a África é um continente obscuro. Está em pleno crescimento e repleto de oportunidades", explicou o especialista em relações EUA/África Scott Firsing.

Obama se concentrou nas possibilidades de negócios em detrimento da ajuda uhmanitária, resumiu este pesquisador da Universidade da Carolina do Norte.

Ameaça terrorista

De um ponto de vista militar, Obama fez seu país incursionar em um território no qual até então estava ausente.

Os soldados americanos estiveram presentes contra a Al-Qaeda no Magreb Islâmico (AQMI) no Mali, Boko Haram na Nigéria e os shebab na Somália.

Foram instaladas bases de drones no Níger, fronteiriço com o Mali, Nigéria e Camarões, enquanto eram realizados ataques seletivos na Somália.

"Francamente, o exército americano não tinha muitas razões para se concentrar na África, mas agora, infelizmente, tem", estimou o ex-chefe do Comando dos Estados Unidos para África (AFRICOM), o general Carter Ham.

O caos na Líbia após a morte de Muanmar Kadhafi, em 2011, permitiu que os combatentes radicalizados, assim como os arsenais de guerra, se propagassem por toda a África.

O general Ham estima que claramente ocorreram consequências "prejudiciais".

Obama fez destas ameaças uma prioridade: "Penso que estava verdadeiramente preocupado pela estabilidade e segurança na África".

"Se não tivéssemos feito nada era apenas questão de tempo antes que estas organizações (extremistas) alcançassem seu objetivo de atacar o Ocidente", disse.

Sentimento de orgulho

O mandato de Obama não foi perfeito: sua administração foi criticada pelo apoio dado a países como Etiópia, muito censurado em matéria de direitos humanos.

Para muitos, a herança mais duradoura de Obama é, no entanto, seu exemplo. Em Acra, em 2009, Obama declarou que "o sangue da África" corria em suas veias.

"Ter um líder como ele tem um efeito psicológico importante nos africanos", analisa Mzukisi Qobo, professor de política na Universidade de Johannesburgo.

"Apesar de suas fraquezas e defeitos, há um sentimento de orgulho de ver alguém como Obama", acrescenta.

No mês passado, os ganeses lembraram as palavras de Obama sobre os "homens fortes" por ocasião da derrota do presidente em fim de mandato John Dramani Mahama para seu rival Nana Akufo-Addo.

Apesar de alguns incidentes, as eleições se desenvolveram bem e a transição foi feita em calma, assim como na Nigéria em 2015, quando Muhammadu Buhari derrotou seu antecessor Goodluck Jonathan.

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