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Ex-dirigente da Volkswagen diz que não sabia sobre "dieselgate"

A Volkswagen aceitou declarar-se culpada por "conspiração" e "obstrução da justiça" por ter destruído documentos para encobrir sua atuação às autoridades dos EUA

Agência France-Presse
postado em 19/01/2017 15:47

O ex-presidente de Volkswagen, Martin Winterkorn, descartou nesta quinta-feira as acusações de acobertamento, ao depor ante uma comissão parlamentar alemã, e afirmou que nunca soube nada sobre manipulação dos motores a diesel do grupo até o escândalo ter vindo à tona em setembro de 2015.

O ex-dirigente, de 69 anos, que se gabava de conhecer "cada parafuso" de seus veículos, desmentiu saber da manipulação durante o verão de 2015, como suspeitam as autoridades americanas.

"Não é o caso", insistiu em sua declaração preliminar, acompanhado por dois advogados.

"Ainda busco respostas" às perguntas suscitadas por esse escândalo monumental, garantiu. "As pessoas ficaram furiosas, eu também", acrescentou.

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A imprensa duvida que ele se dobrará ao jogos de perguntas e respostas dos deputados.

Sua versão dos fatos é "de uma importância particular", afirmou em um comunicado Herbert Behrens do partido de esquerda Die Linke, presidente da comissão de investigação criada em julho passado.

Trata-se, segundo Behrens, de estabelecer em que momento "o diretório da VW na Alemanha foi informado" sobre a manipulação de 11 milhões de seus veículos no mundo para que os motores passassem pelos controles de poluição, um caso revelado nos Estados Unidos.

Reunidos durante várias horas, os deputados vão ouvir também Matthias Wissmann, ex-ministro de Transporte que é agora o presidente da Federação da Indústria Automotiva (VDA), assim como três dirigentes das marcas Volkswagen, Audi e Opel.

Confissão ao FBI

As autoridades americanas, que acabam se assinar com a Volkswagen um acordo para encerrar por 4,3 bilhões de dólares o processo penal do caso, além dos 17,5 bilhões de dólares em indenizações, acusam claramente a antiga direção da fabricante desde a recente acusação por fraude de Olivier Schmidt, um dos executivos do grupo.

Segundo a confissão de Schmidt ao FBI, a direção da VW foi informada sobre a manipulação em meados de 2015, mas decidiu não falar nada.

"Em vez de reconhecer a existência do programa para manipular [os resultados] às autoridades americanas, a direção executiva da VW autorizou que continuasse sendo encoberta", afirmou o Departamento de Justiça, sem citar o nome dos responsáveis

A Volkswagen aceitou declarar-se culpada por "conspiração" e "obstrução da justiça" por ter destruído documentos para encobrir sua atuação às autoridades dos EUA, mas o acordo final de 86 páginas, consultado pela AFP, não esclarece as responsabilidades dentro do grupo.

Este tema é crucial na Alemanha, onde o Ministério Público de Brunswick (norte), que iniciou um processo por "manipulação", recebeu mais de 1.400 queixas de acionistas que se estimam prejudicados pela comunicação tardia do grupo, e pedem mais de 8 bilhões de euros por perdas e danos.

"Sr. Qualidade"

Sobre este ponto, a linha de defesa do grupo não mudou em mais de um ano: segundo a Volkswagen, a diretoria foi informada "no final de agosto, início de setembro" de 2015.

No domingo, o jornal sensacionalista Bild citou um participante de uma reunião organizada no dia 27 de julho de 2015 com a direção da VW segundo o qual os dirigentes se referiram "ao fato de que algo ilegal estava instalado nos carros" antes de pensarem em que atitude adotar.

Martin Winterkorn, com reputação de perfeccionista e apelidado de "Sr. Qualidade" dentro do grupo que dirigia desde 2007, teria dito a um técnico: "você e seu programa" para fraudar os resultados, afirmou o Bild, citando o testemunho de um engenheiro à justiça alemã.

De acordo com o jornal Süddeutsche Zeitung e os canais públicos regionais WDR e NDR, duas "testemunhas capitais" explicaram às autoridades americanas que já em 2012 e 2014, indicaram o problema a Winterkorn.

A comissão parlamentar já interrogou em dezembro o ministro da Economia alemão, Sigmar Gabriel, que afirma que não sabia nada antes da revelação pública do escândalo. Quer também interrogar a chanceler Angela Merkel no dia 8 de março.

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