Mais da metade (58%) da população da América Latina têm sobrepeso, devido principalmente a uma má nutrição que afeta especialmente mulheres e crianças, indicou nesta quinta-feira um relatório conjunto da FAO e da OMS difundido em Santiago.
Enquanto 360 milhões de latino-americanos têm sobrepeso, cerca de 140 milhões (23% da população) sofre de obesidade, dados alarmantes que expressam "uma presença preocupantemente alta na região" de ambas condições, indicou o relatório Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e no Caribe.
O sobrepeso e a obesidade "dobraram na última década, e a tendência é crescente principalmente nas mulheres e nos mais jovens", afirmou a médica Paloma Cuchi, representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Chile.
No caso dos adultos, as mulheres sofrem mais de obesidade que os homens. Em mais de 20 países, a taxa de obesidade feminina é 10 pontos percentuais maior que a masculina, segundo o relatório.
Isto se explica pelo atual sedentarismo das mulheres na região, somado ao fator trabalhista que as priva de tempo suficiente para preparar comidas saudáveis, segundo especialistas da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e da OMS.
Os países com as maiores taxas de sobrepeso são Bahamas (69%), México (64%) e Chile (63%).
Na região, 7,2% das crianças menores de cinco anos (cerca de quatro milhões) vivem com sobrepeso, um ponto a mais que a porcentagem mundial (6,2%).
Barbados (12,2%), Paraguai (11,7%) e Argentina (9,9%) são os países com os maiores índices de sobrepeso em menores, enquanto o Haiti tem o nível mais baixo (3,6%).
Os governos da região devem priorizar "a prevenção nas crianças", visto que "é mais fácil combater o sobrepeso neles em comparação com os adultos", afirmou à AFP Rubén Grajeda, especialista da OMS.
O relatório destaca, ainda, que 5,5% da população da região passa fome, e que a desnutrição infantil chega a 7,8%, o que representa 6,1 milhões de pessoas, em sua maioria pobres que vivem em zonas rurais.
"Comer saudável custa"
As altas taxas de sobrepeso e obesidade na região se devem a uma má nutrição associada a fatores sociais e econômicos, como o difícil acesso a alimentos saudáveis e frescos e seu preço alto em comparação com os produtos processados, com alto nível calórico, que são mais baratos e que contam com um poderoso aparelho de publicidade, segundo a FAO e a OMS."Comer saudável custa", afirmou Eve Crownley, representante da FAO no Chile.
Países como Argentina, México, Chile e Uruguai ultrapassam a média regional de 129,6 kg per capita de produtos ultra-processados, onde a disponibilidade de açúcares, carnes e lácteos é muito maior que a de alimentos naturais como peixes ou derivados da agricultura.
Segundo a FAO e a OMS, por ano são perdidas ou desperdiçadas 127 milhões de toneladas de alimentos na América Latina.
Embora países como Chile, México, Bolívia e Peru tenham adotado políticas como o aumento de impostos para bebidas açucaradas ou regulações à publicidade e à rotulação destes alimentos, ainda devem ser adotadas normas complementares para aumentar a oferta e o acesso a produtos frescos e água limpa, indicou o relatório.
"As taxas alarmantes de sobrepeso e obesidade na América Latina e no Caribe devem chamar a atenção dos governos da região para a introdução de políticas que abordem todas as formas de fome e desnutrição, associando segurança alimentar, sustentabilidade, agricultura e saúde", afirmou Crownley.