Agência France-Presse
postado em 20/01/2017 00:10
O narcotraficante mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán está sendo transferido para a cidade de Nova York, nesta quinta-feira (19), depois que o governo mexicano decidiu extraditá-lo para os Estados Unidos - informou à AFP uma fonte do governo americano.
A fonte, que pediu para não ser identificada, explicou que Guzmán segue para Nova York, chegando lá à 1h de sexta-feira (horário de Brasília).
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do México confirmou que "o governo da República entregou no dia de hoje o senhor Guzmán Loera às autoridades dos Estados Unidos".
Em Washington, o departamento de Justiça emitiu um comunicado no qual expressa sua "gratidão" ao governo mexicano por sua "cooperação e assistência" ao entregar Guzmán à Justiça americana.
O comunicado confirma que Guzmán está a "caminho" dos Estados Unidos.
Chefe do cartel de Sinaloa e durante anos um dos traficantes mais procurados do mundo, Guzmán estava na prisão federal de Ciudad Juárez, vizinha à americana El Paso, no Texas.
Guzmán "foi extraditado esta tarde para comparecer em seus processos penais pendentes" nos Estados Unidos, informou no Twitter o secretário de Governo, Miguel Angel Osorio Chomg.
"El Chapo" é requerido pelos tribunais da Califórnia e do Texas pelos crimes de homicídio e tráfico de drogas.
Surpresa para defesa
Silvia Delgado, advogada de Guzmán em Ciudad Juárez, disse à TV Milenio que não foi notificada da extradição, da qual tomou conhecimento pela imprensa.
"Fizeram isto de forma ilegal porque ainda não foi analisado o recurso pendente de revisão (...). Somos os maiores surpresos com esta notícia, não temos qualquer informação por parte das autoridades", declarou Delgado.
A advogada destacou que visitou Guzmán na manhã desta quinta-feira e que seu cliente estava "tranquilo", mas lhe pediu que enviasse uma carta ao presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, para denunciar "toda a violação de seus direitos humanos".
Entre as alegações, a defesa assinalava que Guzmán poderia sofrer a pena de morte, vigente no Texas. A sentença iria contra o tratado de extradição entre ambos os países, já que, no México, essa lei está abolida. Isso foi desconsiderado, porém, pelo juiz responsável pelo caso.
A extradição cumpre "as normas constitucionais, os requisitos estabelecidos no tratado bilateral e as demais disposições legais vigentes para sua emissão", sustenta a Chancelaria, no comunicado.
Data simbólica de entrega
Essa extradição ocorre no último dia da presidência de Barack Obama e a poucas horas da posse do magnata Donald Trump, que atuará com fortes medidas políticas e econômicas contra o México.
"Não queriam que Trump pudessem se gabar, assim conseguiram entregá-lo nos últimos minutos de Obama", disse à AFP o especialista em segurança e ex-agente da Inteligência americana Alejandro Hope.
"A data (da extradição) é muito simbólica. É um ato do governo do México para que Barack Obama e Donald Trump vejam que o México está fazendo verdadeiros esforços para combater o narcotráfico", disse o especialista em assuntos de Segurança Raúl Benítez Manaut, da Universidade Nacional Autônoma do México.